segunda-feira, outubro 7, 2024
Noticias

Sí, se puede

“Yes, we can”. Esse slogan da campanha presidencial de Barack Obama nos Estados Unidos fez sucesso mundialmente. Em tradução literal, “Sim, podemos” ajudou a eleger o primeiro presidente negro no país. Em 2012, Obama deu os créditos à mulher que primeiro havia usado o slogan em espanhol décadas antes, enquanto a condecorava com a mais alta honraria civil do país, a Medalha Presidencial da Liberdade.

Essa mulher era Dolores Huerta, que no último dia 10 de abril completou 94 anos de idade e luta. De origem mexicana, Dolores cresceu no estado da Califórnia e desde jovem começou a se envolver com ativismo comunitário. Formou-se em pedagogia, mas não trabalhou muito tempo como professora. Seus alunos, filhos de trabalhadores rurais, iam para escola famintos e em condições de extrema pobreza.

Dolores sentiu que seria mais útil organizar esses trabalhadores para lutar por seus direitos do que tentar ensinar seus filhos naquelas condições.

Ao lado de Cesar Chavez, ela fundou um dos mais influentes sindicatos de trabalhadores rurais. Promovendo boicotes, greves e forte organização, Dolores foi responsável por negociar contratos, advogou por condições de trabalho mais seguras, conseguiu eliminar o uso de pesticidas prejudiciais, entre tantas outras conquistas.

Um dos movimentos que liderou foi o boicote nacional às uvas, no final da década de 1960, que resultou em um contrato sindical bem-sucedido. Talvez, no Brasil, ainda precisemos desse tipo de força e inspiração, para evitar situações como a das vinícolas da Serra Gaúcha, em que 210 trabalhadores da colheita de uva foram resgatados de situação análoga à escravidão no ano passado.

Sobre seu famoso slogan, Dolores conta, em um documentário sobre sua vida, que a frase surgiu quando tentavam organizar trabalhadores no estado do Arizona em 1972. Enfrentando resistência, os trabalhadores diziam que ali não seria possível lutar contra as leis, ao que Dolores respondeu: Sí, se puede! Dolores não aceitava a resposta de que não era possível, com a força da comunidade, promover mudança e justiça social.

No mesmo estado em que o slogan nasceu, a resistência a Dolores e a seu ativismo levaram ao banimento em 2010 de estudos étnicos, incluindo mexicanos, nas escolas públicas. O banimento permaneceu até 2017, quando um juiz o julgou inconstitucional. No Brasil, temos há 20 anos uma lei que vai no sentido contrário: torna obrigatório o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira nas escolas. Na prática, ainda estamos longe de conseguir incluir nas escolas a discussão sobre o papel dos diferentes povos na nossa história.

Em seu país, Dolores segue na luta pela promoção da justiça social, treinando e sendo modelo para novos ativistas. Ela conhece o poder da organização social e vai continuar dizendo que sim, nós podemos.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

source

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

WP Twitter Auto Publish Powered By : XYZScripts.com