Charge inédita de Ziraldo retrata clima tenso das Diretas
O maestro Júlio Medaglia tem numa das paredes da sua casa em São Paulo uma charge de Ziraldo que, segundo o regente, jamais saiu em jornal, revista, livro ou qualquer outro tipo de publicação.
A charge inédita nasceu em meio a um bate-papo de amigos e colegas na Redação do Pasquim, que havia sido fundado em 1969 por Ziraldo, Millôr Fernandes, Jaguar, Tarso de Castro e alguns outros nomes da imprensa e do humor carioca. Nos anos seguintes, o semanário ganhou colaboradores das mais diversas áreas, como a música —Medaglia era um deles.
No decorrer dessa conversa, em 1984, ano do ápice do movimento das Diretas Já, o maestro começou a criticar fortemente o então presidente João Figueiredo e a ditadura militar de modo geral.
Naquele instante, Ziraldo pôs no papel Medaglia com a batuta. Também desenhou um Figueiredo em forma de centauro –cabeça, tronco e braços de homem, e o resto do corpo de cavalo. E colocou um chicote na mão direita do general.
Além dos ânimos exaltados em meio à campanha das Diretas, o artista gráfico fazia referência a uma das declarações famosas de Figueiredo.
Em agosto de 1978, sete meses após ser indicado por Ernesto Geisel como seu sucessor, o general deu uma entrevista e, a certa altura, o apreço do futuro presidente pelos cavalos virou assunto. O repórter, então, perguntou se ele gostava do “cheiro do povo”. Respondeu: “O cheirinho do cavalo é melhor”.
Concluída a charge, Ziraldo a entregou de presente para Medaglia.
Como lembrou Ruy Castro depois da morte do amigo, Ziraldo era capaz de desenhar “no meio de 30 pessoas ao mesmo tempo”.