segunda-feira, outubro 7, 2024
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Quem é o japonês da Liberdade que viralizou fazendo “leitura da vida”

São Paulo — Todas as semanas, de terça a domingo, um grupo de pessoas forma fila em frente ao número 358 da Rua Galvão Bueno, na Liberdade, centro de São Paulo, à espera de uma senha. Elas tentam garantir vaga na disputada agenda de Hiroji Ito, um japonês de 90 anos e que há mais de 20 trabalha como quiromante no bairro turístico da capital paulista.

“Tem gente que dorme na rua no dia anterior para conseguir a senha”, conta Antônio Laurindo, funcionário de um estacionamento próximo à galeria em que Hiroji Ito atende.

Os comerciantes do bairro comentam que a procura pelos serviços do quiromante aumentaram há cerca de dois meses, quando um vídeo sobre ele viralizou nas redes sociais.

As imagens, gravadas pelo influenciador Wagner Oliveira, mostram Hiroji lendo as mãos dos clientes em uma mesa improvisada, na calçada da Galvão Bueno. A população espera a vez debaixo de uma chuva forte, e uma das mulheres diz que o quiromante acerta todas as previsões sobre o futuro.

O sucesso do vídeo foi tanto que Hiroji decidiu voltar a alugar um box em uma galeria do local, como fazia antes da pandemia de Covid-19, para receber seus clientes. O valor da “consulta” também subiu, de R$ 50 para R$ 100, e o quiromante começou a agendar os horários. Por dia, são distribuídas de 14 a 16 senhas, entregues às 9h na porta do estabelecimento.

“O senhor Ito está conhecido no Brasil todo. Vem gente do interior e até de outros estados”, conta Inácia Ribeiro Leite, vendedora de roupas em um box vizinho ao do Hiroji.

Amiga do quiromante há mais de duas décadas, ela ajuda a orientar os clientes que chegam ao local em busca de informações sobre o “japonês que lê mãos”.

“Desculpa interromper. É aqui mesmo que ele atende?”, pergunta uma mulher enquanto Inácia fala com a reportagem do Metrópoles. “É sim, mas as senhas de hoje já acabaram”, responde ela. A potencial cliente, que veio de Osasco, na região metropolitana, promete voltar na semana seguinte.

Os atendimentos variam de 15 a até 40 minutos e são feitos em uma sala pequena, sem decorações, com apenas uma mesa e três cadeiras. Uma plaquinha indica que ali se faz a “leitura da vida”.


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Hiroji conta ao Metrópoles que aprendeu a quiromancia sozinho e saca um livro com inscrições em japonês e desenhos de mãos.

“Professor, eu não ‘tem’. Só livro”, diz ele, com um português ainda truncado, apesar de morar há vários anos no Brasil.

Natural de Fukushima, no Japão, Hiroji saiu de seu país de origem nos anos 1960. “Aquele tempo ‘de Japão’ tava muito ruim”, afirma.

Ao desembarcar no Brasil, ele foi com a mulher e a filha para Adamantina, no interior de São Paulo, onde trabalhou em uma granja. Anos depois, mudou-se com a família para a cidade de Cascavel, no Paraná, onde boa parte de seus parentes vivem até hoje.

A vinda para a capital paulista aconteceu bem mais tarde, quando ele já estava aposentado. Foi nesse período que Hiroji começou a trabalhar como quiromante na Liberdade.

“Tem bastante [gente] sofredora, né? Eu digo que faço para ajudar”, conta o quiromante.

Nos atendimentos, o idoso associa a leitura das mãos à numerologia — estudo esotérico que avalia a influência dos números na vida das pessoas.

Mesmo sem comprovação sobre as previsões, a manicure Suely Ferreira, de 63 anos, acha que vale a pena investir os R$ 100 no atendimento.

“Vim hoje só para isso. E vou passar a dica para as minhas clientes também”, conta ela, que mora em Diadema, na Região Metropolitana de São Paulo, e chegou às 7h55 para garantir a vaga.

O atendimento dela durou cerca de 15 minutos. Ao sair da sala, Suely disse ao Metrópoles que não teve surpresas. “Confirmou o que eu já sabia. Tá tudo ótimo.”

Além dela, passaram pela sala de Hiroji Ito na manhã da última quinta-feira (18/4) um morador de São Roque, que trabalha com política e queria saber mais sobre a vida profissional, e uma curitibana, que veio escondida da família. “Meu marido não sabe, ele é contra essas coisas”, disse ela, que é católica e preferiu não se identificar.

Uma das últimas com horário agendado para aquela manhã, Daniela Santos, de 39, esperava sua vez enquanto passava algodão com acetona nas unhas.

“Ninguém me contou que tinha que tirar o esmalte”, disse ela, explicando que soube ao chegar ali que as previsões seriam “mais certeiras” se as unhas não estivessem pintadas.

Os atendimentos durante a semana se encerram por volta das 17h30, quando Hiroji fecha o box. Perto de completar 91 anos, ele avisa, no entanto, que seu trabalho como quiromante pode estar com os dias contatos. “Tô cansado”, diz ele, dando risada.

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