Guerra sem fim
Vladimir Putin inaugurou seu quinto mandato como presidente da Rússia com um pacote de surpresas. Na sexta (10), lançou ofensiva no norte da Ucrânia, mirando a região de Kharkiv, ao avançar sobre as defesas com velocidade inaudita desde o início do conflito em 2022.
Seu objetivo é ora insondável, se subjugar Kharkiv, uma missão difícil, ou criar um cordão sanitário para impedir lançamento de mísseis ucranianos contra o sul da Rússia.
Certo é que a ação drenou recursos humanos e materiais de Kiev em toda a linha de frente de 1.000 km e expôs áreas sob ataque a novos avanços. O pânico se espalhou, e o presidente Volodimir Zelenski teve de cancelar viagem ao exterior.
Os EUA despacharam seu secretário de Estado, Antony Blinken, para prometer apoio e armas que, por motivos paroquiais no Congresso americano, só foram liberadas em abril e ainda não chegaram.
Blinken foi além, sugerindo que o eventual emprego delas contra território russo, um tabu ocidental dado o risco de escalada, é decisão privativa do aliado
Em meio a esse cenário, Putin colocou na mesa carta ainda mais bombástica no domingo (12): promoveu a ministro da Defesa um economista keynesiano chamado Andrei Belousov, que o assessorou ao longo dos anos.
Ele ocupa agora o lugar de Serguei Choigu, que dirigia o órgão havia quase 12 anos e comandou a invasão do vizinho, mas fracassou em vencê-lo rapidamente. Ainda é incerto se Choigu, que foi para o posto de um aliado linha-dura de Putin no Conselho de Segurança do país, irá reter influência.
Já o presidente foi claro acerca do papel de Belousov. Nesta quarta (15), ao anunciar um gasto militar recorde no período pós-Guerra Fria, de 8,7% do PIB neste 2024, afirmou que “a relação entre canhão e manteiga deve ser integrada organicamente à estratégia geral de desenvolvimento do Estado russo”.
Ou seja, Putin quer uma economia militarizada por longo prazo, para o embate existencial com o Ocidente que já anunciou em outras ocasiões. Considerando o poderio nuclear do Kremlin e a possibilidade de choques imprevistos, trata-se de perspectiva temerária.