A cidade oferece o Sena e o sonho
Quando, em 1974, eu me radiquei em Paris para fazer análise, tive a sorte de me instalar num duplex que tinha quatro pequenas janelas para a Notre-Dame e eu podia contemplar a catedral a qualquer hora do dia… contemplar ou visitar, porque ela ficava a dois passos.
Numa das visitas, ouvi o padre ler um fragmento da Paixão segundo São Lucas e evocar o que os chefes dos padres e dos escribas disseram a Pilatos sobre o Cristo: “Encontramos este homem semeando a desordem. Ele impede os outros de pagar os impostos e afirma que é o Rei Messias”.
Ouvi a frase olhando para as duas rosáceas do transepto da catedral e escrevi no meu caderninho: “À luz do ocaso e dos lustres de lâmpadas que simulam velas, as rosáceas são tão irreais quanto as noites claras de luar. Ainda que o Cristo só tivesse nascido para inspirar os homens que, séculos depois, fizeram os vitrais de Notre-Dame, o Cristo mereceria ser chamado de Salvador. Porque com a arte a gente se salva”.
Bastou ter olhado as rosáceas e ter tido a ideia de escrever um livro cujo título seria” Quando Paris Cintila” para sair da igreja salva, feliz.
Paris cintila sempre que a gente olha para a cidade querendo enxergar o sonho dos que fizeram dela um espaço mágico, capaz de acolher o sonho das gerações futuras. Quem olha para um bateau-mouche deslizando pelo Sena sem se transportar? Paris oferece continuamente cenas irreais. Nela é possível se surpreender como na infância.
Isso também acontece por causa da relação da cidade com o tempo que desabrocha nos monumentos, ora oferecendo a Idade Média, ora a Renascença, ora a modernidade.
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