terça-feira, outubro 8, 2024
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Drinque que originou o martini rodou muito no tempo das diligências

Quem brincou de forte apache e assistiu a faroestes em preto e branco chegou a acreditar que os Sioux, os Comanches e os Cheyennes eram inimigos cruéis e sanguinários, ao passo que o general Custer e seus soldados eram heróis de uma lenda grandiosa.

Hoje sabemos que está bem mais para o contrário: os indígenas haviam sido forçados pelos caubóis fardados e colonos europeus a abandonar suas terras para viver confinados em pequenas reservas. Nesse movimento, foram massacrados ou largados à míngua.

A maturidade equivalia, então, a mudar de lado e torcer pelos honrados peles-vermelhas, mesmo que a história já estivesse escrita em favor dos invasores brancos (com o tempo isso também mudou —leia o pioneiro “Enterrem Meu Coração na Curva do Rio”, de Dee Brown).

Nesse sentido, a batalha de Little Bighorn, em 1876, foi um marco. O sétimo regimento da Cavalaria de Custer sofreu uma derrota acachapante para os guerreiros de Touro Sentado e Cavalo Louco. Escalpos se empilharam sobre a areia quente; brados ululantes ecoaram nas pradarias. Os que não morreram, passaram a depender de muletas. E nunca esqueceram.

Perto dali, no seu tranquilo forte apache, o sargento Martinez andava pra lá e pra cá sem ter o que fazer. Por golpe de sorte ou esperteza, ficara de fora do massacre. Mas o tédio apertava. Restava contar cartuchos e olhar por sobre a paliçada, onde só via sol e poeira, como no romance “O Deserto dos Tártaros”, de Dino Buzzati. A garganta parecia um cânion esquecido há muito pela água. O que fazer? Oras, inventar um coquetel. Foi o que fez. Batizou-o com seu nome.

Filho do manhattan, o martinez é o pai do martini. Leva vermute doce ao invés do seco. No final do século 19 e início do 20 era comum que os coqueteis fossem mais doces ou com maior proporção de vermute em comparação ao destilado de base —mais “wet”, molhados. Um purista de hoje, acostumado a seu martini superdry, torceria o nariz para a taça recebida numa taverna em 1890.

A história do sargento entediado pode não ser verdade. (Como ele tinha os ingredientes naquele cenário que mais lembrava o “Meridiano de Sangue”, de Cormac McCarthy?) Há outras versões de como o martinez e o martini surgiram.

Uma delas conta que um garimpeiro, personagem da corrida do ouro, que tomou conta da Califórnia em meados do século 19, parou num saloon na pequena Martinez, perto de San Francisco. Comprou uma garrafa de uísque com uma pepita e pediu um coquetel de troco. O bartender, um francês chamado Julio Richelieu, teria então feito o martinez, em homenagem à cidade.

As receitas são muitas. Algumas levam Cointreau, outras licor marrasquino. As proporções variam tanto quanto nos primeiros martinis, podendo chegar a duas vezes vermute, uma vez gim. Os nomes variam ainda mais —nenhum deles, diga-se, ligados à marca de vermute Martini & Rossi, pois ela apareceu depois do martinez e do martini, que tiveram suas receitas impressas em 1884 e 1888, respectivamente.

Marguerite, martine, martigny, martina, martineau, bradford à la martini. As variações se sucederam ao longo de 30 anos. Seria preciso um Darwin para determinar a origem dessas espécies. Talvez ele começasse as pesquisas num forte remoto ou numa taverna empoeirada.

Martinez

  • 60 ml de gim
  • 30 ml de vermute doce
  • 7 ml de licor Luxardo maraschino

Preparo

Dois lances de bitters de laranja ou Angostura

Mexa os ingredientes com gelo e coe para uma taça coupe previamente gelada. Como guarnição, use um twist de laranja


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