quarta-feira, outubro 9, 2024
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Lições aprendidas em 3 décadas de combate à pobreza

Enquanto trabalhava no serviço de pediatria do Hospital Federal da Lagoa no Rio de Janeiro, nos anos 80, a maioria das mães dos meus pacientes criava os filhos sozinha, sem nenhum tipo de apoio, morando em casas sem condições mínimas de salubridade.

As crianças chegavam ao hospital, eram tratadas, recebiam alta, para logo serem readmitidas, às vezes em poucas semanas. Formava-se um ciclo vicioso e ficava cada vez mais claro que, muitas vezes, a raiz da doença das crianças era a pobreza.

Como médica, entendi que teria que ir além dos muros do hospital e, em 1991, fundei o Instituto Dara, organização que trabalha com metodologia pioneira de combate à pobreza.

Abordagem integrada para combater a pobreza

O Plano de Ação Familiar criado pelo Dara é constituído por metas e ações nas áreas de saúde, moradia, geração de renda, cidadania e educação, acordadas e exercidas com a colaboração de cada família. O objetivo é ajudar essas famílias a transformar suas vidas e assumir o controle do próprio destino.

Entendemos a importância de trabalhar concretamente com os determinantes sociais de saúde e integrar justiça social, criando um novo paradigma nesta área. E esta abordagem tem impactado milhares de pessoas no Brasil e no mundo.

A revista americana Scientific American considerou o programa de saúde um dos mais confiáveis do mundo. Além disso, Muhammad Yunnus, prêmio Nobel da Paz 2006, classificou o Plano de Ação Familiar como “poderosa metodologia de inclusão dos mais pobres.”

Enfrentando desigualdades sociais no Brasil

O Brasil é a nona maior economia do mundo e também um dos países com mais desigualdades sociais. Como consequência, 30% da população brasileira tem fome ou vive em insegurança alimentar.

O impacto da insegurança alimentar tem consequências de longo prazo, especialmente na primeira infância, de 0 a 6 anos. Uma dieta saudável ou a falta de alimentação afeta todo o desenvolvimento físico e cognitivo de cada um ao longo da vida.

A pobreza importa a todos

A pobreza tira do indivíduo a sensação de pertencimento à sociedade e sua consciência como sujeito de direitos. A ONU (Organização das Nações Unidas) estima que 1,2 bilhão de pessoas no mundo sofrem de pobreza multidimensional, sendo que mulheres e alguns grupos étnicos são os mais afetados.

No Brasil, por exemplo, 2 em cada 5 mulheres pretas ou pardas estão em situação de pobreza. Organizações da sociedade civil têm criado uma maior consciência em relação às desigualdades sociais e à necessidade de proteger o meio ambiente.

O trabalho do Instituto Dara de enfrentamento à pobreza

Ao chegar na sede do Dara, famílias passam por uma série de entrevistas com profissionais e voluntários —médicos, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, arquitetos, advogados e educadores—, além de receber uma visita em suas casas para determinar suas necessidades.

Juntos, os funcionários do instituto e as famílias desenham um programa nas áreas de saúde, educação, moradia, geração de renda e cidadania.

As famílias vêm ao Dara pelo menos uma vez por mês para participar de reuniões e discutir o progresso de sua trajetória no Plano de Ação Familiar. Em outros momentos, participam de oficinas profissionalizantes e de atividades para todos os membros da família. A avaliação da evolução é feita continuamente. Todos os progressos são registrados num robusto sistema de TI criado pelo instituto.

As famílias chegam ao Dara em situação de completa vulnerabilidade, e, ao término do programa, saem autossuficientes e com uma vida digna.

O que podemos fazer para erradicar a pobreza?

A pobreza é multidimensional e complexa. Portanto, requer o compromisso e o envolvimento de todos os atores da sociedade.

O Hubep (Hub de Erradicação da Pobreza) é uma rede de organizações reunidas pelo Dara para mobilizar a sociedade civil num esforço conjunto de combater a pobreza no Brasil. Ao longo de sua trajetória, transformou a vida de mais de 42 milhões de pessoas.

A rede compartilha informações e experiências e facilita conexões com outras organizações e setores, para que a sociedade civil ganhe capacidade de impacto, influencie políticas públicas e possa contribuir para um mundo mais justo, inclusivo, saudável e sustentável.


O livro de Vera Cordeiro e Roberta Pennafort, “A Cobertura do Mundo, descreve uma jornada de 32 anos do Instituto Dara e alguns aspectos da vida pessoal de sua fundadora.


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