terça-feira, outubro 8, 2024
Noticias

Dois vivas à diversidade

Alguns anos atrás, falei num encontro de analistas financeiros em São Paulo. Não me lembro, mas provavelmente eu disse “Conheça a verdadeira economia” e “Siga o verdadeiro liberalismo”. Vocês me conhecem.

No entanto, notei que numa plateia de 300 pessoas não havia um único rosto negro. Todos tinham “deficiência de melanina”. A propósito, até muito recentemente, pelos padrões evolucionários, os europeus eram negros, sendo originários, como todos nós, da África.

A faixa norte da Eurásia tem pessoas com deficiência de melanina porque a pele negra é perigosa em lugares escuros e sombrios.

Nos trópicos, ela protege contra a obtenção excessiva de vitamina D. No norte, ela impede que você obtenha a quantidade suficiente.

Ao contrário, digamos, da vitamina E, a vitamina D é perigosa tanto se for em excesso quanto se houver falta. Então os nortistas, ao longo de milênios, foram selecionados para a branquitude.

De qualquer modo, notei a ausência de afro-brasileiros, e disse isso. Normalmente não critico meu público, especialmente quando estou no exterior. E, apesar de toda a conversa sobre uma “sociedade pós-racial”, tanto os brasileiros quanto os ianques ainda precisam trabalhar sobre a diversidade.

A maneira ruim de trabalhar isso é com cotas legais —para negros, mulheres, quem quer que seja. Uma cota estigmatiza as pessoas que deveria ajudar. É verdade que, no passado, tivemos cotas em favor dos deficientes em melanina. Deve haver um provérbio em português como o “Turn about is fair play” (algo como “Retaliar é justo”).

A melhor maneira de trabalhar sobre isso não é a lei, mas uma mudança de sentimento, o que está acontecendo lentamente. Na TV dos EUA, os comerciais, até de colchões, hoje em dia apresentam habitualmente casais birraciais. Aha!

Um modo de pensar econômico pode ajudar, entretanto.

David Ricardo disse em 1817 que a diversidade de salários leva a ganhos de eficiência em um time. Um time de futebol precisa de atacantes, mas também de defensores.

J. S. Mill disse em “On Liberty”, em 1859, que a diversidade de opinião melhora as conclusões. Claro. O desastre da espaçonave Challenger em 1986, que matou os astronautas a bordo, foi causado em parte pelo pensamento de grupo entre gerentes e engenheiros insuficientemente diversos.

E no mesmo ano de 1859, Darwin mostrou que a diversidade aleatória nos ancestrais leva à evolução, assim como a diversidade de empreendimentos leva ao enriquecimento.

Portanto, uma cabeça e um coração liberais de verdade levam à justiça e ao enriquecimento. Aproveitem nossa diversidade, queridos.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura digital grátis.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

source

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

WP Twitter Auto Publish Powered By : XYZScripts.com