quinta-feira, outubro 10, 2024
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Ramos de Azevedo, o arquiteto 'chave na mão'

O escritório de arquitetura de Francisco de Paula Ramos de Azevedo não foi só o mais produtivo de São Paulo entre a última década do século 19 e os anos 1930. Foi também o que deixou as obras mais duradouras que até hoje são admiradas e usufruídas pela população da cidade. Quando se pensa em prédios históricos em estilo eclético que resistiram ao tempo e causam fascínio, quase sempre se descobre a assinatura de Ramos de Azevedo.

Nenhum arquiteto da cidade foi tão marcante e prolífico. Sua lista de obras fundamentais começa no Theatro Municipal, passa pelo Liceu de Artes e Ofícios (atual Pinacoteca) e chega em construções como o Palácio das Indústrias, o Mercado Municipal, o Arquivo Municipal (prédio que leva seu nome), o Palácio dos Correios, a Casa das Rosas, o Palácio da Justiça, o Batalhão Tobias de Aguiar, o colégio Caetano de Campos, o Hospital do Juquery, a Faculdade de Medicina da USP e muitos outros, inclusive dezenas de residências para membros da elite paulista.

Entre 1886 e 1928, Ramos de Azevedo realizou mais de 30 projetos no centro da cidade. Seu escritório não perdia uma licitação e inclusive conquistou muitas obras em Campinas, onde vivia sua família e onde cresceu, e em outras cidades, como Santos e Rio de Janeiro.

Além de pensar no projeto em si, o arquiteto vislumbrava o impacto urbanístico que ele teria e foi pioneiro na instalação de banheiros no espaço interno das moradias. Seu escritório, situado na rua Boa Vista chegou a ter 500 funcionários e era uma máquina arquitetônica imparável. Ele era conhecido como o arquiteto dos projetos “chave na mão” pela rapidez com que entregava as construções.

Ramos de Azevedo nasceu em São Paulo em 1851. Em 1869, mudou-se para o Rio de Janeiro com planos de cursar a Escola Militar, que abandonou. Ao retornar para Campinas trabalhou por três anos como ajudante de engenheiro chefe na construção das estradas de ferro Paulista e Mogiana.

Depois, fez curso superior em Gante, na Bélgica, onde se formou em 1878 como engenheiro arquiteto. Estudava engenharia civil, mas o diretor da faculdade, vendo a qualidade de seus projetos, lhe sugeriu que fizesse também o curso na Academia de Belas Artes.

Voltou para Brasil no ano seguinte e antes de criar sua base em São Paulo, em 1886, se estabeleceu durante algum tempo em Campinas, por causa de seus vínculos com a cidade. Lá executou suas primeiras obras, como a Escola do Povo Ferreira Penteado, a Casa de Saúde Campinas e a catedral da cidade, o que mostrou seu pendor para construções grandiosas.

Não por acaso as obras idealizadas pelo escritório de Ramos de Azevedo se mantêm preservadas. Isso se deve à grande qualidade técnica de seu trabalho, que era minucioso e considerava todas as etapas do processo construtivo, incluindo o projeto, a estrutura, a execução, os detalhes da decoração interior, as questões de higiene e a inclusão da construção na paisagem.

Sempre valorizava a salubridade e a luminosidade dos espaços, com quartos que se abriam para a luz natural e com a instalação de corredores laterais para a ventilação dos ambientes. Investiu no comércio de materiais de construção para suprir sua própria demanda (e não ficar na mão por falta de insumos) e numa loja de artigos importados, que eram usados nos palacetes que construía.

Também era inovador nas técnicas arquitetônicas e nos materiais que utilizava, como armações metálicas, alvenaria de tijolos, elementos de ferro aparente e concreto armado.

Entre outras atividades, Ramos de Azevedo foi professor e por onze anos diretor da Escola Politécnica de São Paulo, a qual ajudou a fundar, e também dirigiu o Liceu de Artes e Ofícios. Além disso, criou uma vasta mão de obra especializada numa época em que isso era raro.

Produziu incansavelmente até morrer em 1928, aos 76 anos, e contribuiu decisivamente para o desenvolvimento de São Paulo. Sua empresa, que continuou a funcionar depois de sua morte com o nome Escritório Técnico Ramos de Azevedo, Severo & Villares, produziu milhares de obras.


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