terça-feira, outubro 8, 2024
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Reservas em dólar dão fôlego maior ao país

A eternizada frase de Mário Henrique Simonsen —segundo a qual a inflação aleija, mas o câmbio mata— por muito tempo descreveu um dos grandes fatores impeditivos ao crescimento brasileiro.

Mas o empecilho foi superado na década de 2000, com a acumulação de reservas internacionais (hoje em torno de US$ 351 bilhões), que levou o governo federal a uma posição credora em moeda forte.

Os elevados saldos comerciais tiveram papel essencial naquele momento, com a disparada dos preços de matérias-primas exportadas.

Nos últimos anos, a situação voltou a ser tão ou mais positiva, notadamente nos setores de agropecuária e de extração mineral.

Com isso, o Brasil obteve em 2023 um saldo comercial de US$ 80 bilhões, em ritmo forte que se manteve até maio deste ano. Até aqui, as exportações atingiram US$ 138,8 bilhões, 2,4% acima de 2023, e superaram as importações em US$ 35,9 bilhões, com sólido crescimento do volume enviado ao exterior.

Diante de uma quebra de safra em relação ao ano passado, as vendas do setor agrícola caíram 9,4%, para US$ 31,1 bilhões —o que representa 15,7% dos embarques, ante os 19,6% de 2023. Apenas a soja foi responsável por US$ 21,8 bilhões.

Houve, todavia, aumento na exportação de minério de ferro e petróleo, de 9,3% e 14,3%, respectivamente. Juntos, totalizam 24,2% das receitas no período.

Contudo, mesmo com as vendas liquidas de produtos em alta, o país continua deficitário nas contas de serviços, que incluem remessas de lucros e dividendos, remuneração de propriedade intelectual, transportes e aluguel de equipamentos.

Todos esses itens têm crescido nos últimos anos, de modo que o país continua a ter resultado negativo nas contas agregadas, de US$ 30 bilhões (1,4% do PIB) no ano passado e talvez mais neste ano. O patamar é pequeno, no entanto qualquer virada nos preços de matérias-primas poderá ampliá-lo.

Não se trata de adotar uma visão mercantilista, em que saldos positivos sempre representam sinal de força. Há contextos em que tal relação não se verifica. O problema é que o Brasil segue dependente de poucos produtos e mercados, notadamente a China.

Ainda continua firme a atração de investimentos diretos, mas a insegurança com os rumos da política econômica petista pode ser o fator principal para a saída líquida de US$ 13 bilhões acumulada no ano nas contas de investimentos em carteira e ações.

Com a má gestão local, reservas altas não são garantia de desenvolvimento. É preciso aproveitar a situação de relativo conforto nas contas externas para realizar os ajustes necessários, em especial no Orçamento público.

editoriais@grupofolha.com.br

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