segunda-feira, outubro 7, 2024
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Paz remota

País historicamente associado à neutralidade e a negociações de paz, a Suíça sedia neste fim de semana uma conferência que receberá hostes de líderes em busca de uma solução para a Guerra da Ucrânia, fruto da agressão promovida pelo russo Vladimir Putin em 2022.

O evento, contudo, parece fadado à frustração, salvo uma improvável mudança de ânimo por parte de seus participantes. O motivo básico é que a Rússia não foi convidada. E, se fosse, não iria.

O status neutro dos suíços é desconsiderado por Moscou, dada a adesão a sanções econômicas contra a Rússia devido à invasão.

Assim, o que estará à mesa será um pacote divulgado no fim de 2022 por Kiev, com dez pontos para chegar à paz que não incluem concessões aceitas pelos próprios ucranianos quando ainda havia rodadas de negociações com os russos, no início do conflito.

A brutalidade da guerra justifica a inflexibilidade. O renovado apoio ocidental —que agora inclui a arriscada permissão de EUA e aliados para o emprego de suas armas doadas a Kiev contra território russo— cristaliza tal posição.

Realistas apontam para o fato incontornável de que tal voluntarismo não é suficiente por não ensejar uma derrota militar de Moscou.

O desafio é acomodar preocupações de segurança russas —denunciadas como neoimperialismo no Ocidente e temperadas pelas ameaças nucleares do Kremlin— com a rejeição de um endosso ao uso da força. Nada indica, porém, que essa barreira será superada com o discurso único que se desenha na Suíça, refletindo a divisão maior que a guerra explicitou.

Dos 160 convidados, só 90 confirmaram presença até o agora. O maior apoiador de Kiev, o americano Joe Biden, enviará sua vice. O Brasil declinou de participar e enviará sua embaixadora aos Alpes apenas como observadora.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que se coloca ao lado da China, fiadora de Putin, rejeitou comparecer alegando a defesa de uma cúpula mais ampla que envolva os rivais.

Isso mostra o malabarismo a que as guerras obrigam, dado que, ao contrário dos chineses, os brasileiros condenaram o conflito em duas ocasiões na ONU. Mas, como os asiáticos, rejeitam as sanções a Moscou em nome dos benefícios comerciais que já auferem.

editoriais@grupofolha.com.br

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