Mudança de olhar para terceiro setor e investimento social privado pode transformar sociedade
Foi-se o tempo em que exercer filantropia significava dar ou receber dinheiro para alguma ação social. A captação de recursos hoje passa a ser mobilização de recursos e exige monitoramento, eficiência e resultado.
Isso garante que o impacto social que buscamos seja de longo prazo, com recursos sendo mobilizados de forma constante. Mas empresas investidoras e o terceiro setor estão preparados para tal?
Quem realmente está desenvolvendo uma agenda ESG dentro de seu negócio sabe que a formulação de práticas de filantropia estratégica é uma poderosa aliada. O investimento social privado alinhado a estratégias ESG ajuda a materializar o propósito da empresa para seus stakeholders e pode qualificar o vínculo com a comunidade.
Das 137 organizações que responderam ao Censo Gife 2022-2023, 64% declararam apoiar OSCs (organizações da sociedade civil). Destas, 75% fazem avaliação regular das iniciativas.
Elas indicaram que “identificar claramente as contribuições da iniciativa”, “aprender e orientar tomadas de decisão internas” e “gerar aprendizagem para a organização” são os objetivos mais importantes, sendo que cada um deles foi citado por 98% dos respondentes da pesquisa.
De um lado, há empresas que querem aprimorar e demonstrar retorno de investimento social. Do outro, organizações que precisam entregar dados que justifiquem esse investimento.
Muitos debatem a necessidade de um agente para credenciar, regular e fiscalizar, padronizando índices e a prestação de contas na filantropia, além de garantir transparência.
Diretrizes e padrões claros para relatórios poderiam facilitar a comparação entre diferentes organizações e projetos, o que permitiria uma avaliação mais eficaz. Esse agente também desempenharia um papel na identificação e prevenção de má conduta, protegendo investidores e comunidades beneficiárias.
Porém, não podemos negar que tal criação também resultaria potencialmente em burocracia adicional e custos operacionais para organizações que já dispõem de poucos recursos. Um desvio de tempo e dinheiro que poderiam ser melhor empregados em atividades de impacto direto.
Além disso, é possível que uma burocracia a mais no cotidiano das OSCs limite a capacidade de inovar e responder de maneira rápida a necessidades emergentes. Precisamos estabelecer um equilíbrio entre a necessidade de garantir transparência e resultados e a manutenção da flexibilidade e da capacidade de inovação na filantropia.
Entre investidores e beneficiários é necessário ter gestão, comunicação e conhecimento. Uma boa rede de atuação em cada projeto pode garantir ações efetivas de curto prazo. Já o compromisso de sustentação da iniciativa e da OSC assegura resultados a longo prazo. Problemas sociais exigem tempo aliado à gestão.
Escolas de negócios e demais atores de geração de conhecimento precisam ter o compromisso de apoiar a jornada das OSCs. A educação de gestores pode elevar o grau da governança, gestão de pessoas e estratégia, além de dar robustez e garantir longevidade às missões sociais.
Outro trabalho é facilitar o acesso a tecnologias sociais que tragam agilidade a alguns processos. Por exemplo, uma ferramenta aberta de autoavaliação que ajude organizações a entender seus pontos fracos e fortes na gestão; a compilação de dados em uma comunidade única de OSCs; o mapeamento de regiões de alta vulnerabilidade social e suas reais necessidades.
Precisamos de evidências que nos permitam identificar as estratégias mais eficazes na geração de impacto social.
A prática filantrópica pode ser cada vez mais relevante para mudanças estruturantes na sociedade. A potência dessa atuação depende de estratégia, articulação, credibilidade, conhecimento e gestão aplicada para melhoria das ações do terceiro setor.
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