'Mas não nos disseram nada': versos de leitor refletem sobre passagem do tempo
No equívoco deste instante,
eu me permito lembrar:
os nossos dias mais longos,
na verdade, foram noites;
na verdade, muito curtos.
E haveriam de ter fim
—mas não nos disseram nada.
O verde da liberdade,
derramado de amarelo,
onde fomos tão contentes,
fez-se branco de uma vez.
Os bancos foram tirados,
os bustos se despediram
—mas não nos disseram nada.
Éramos flores recentes
sorrindo a gotas de orvalho
sob o sol que amanhecia.
As pétalas muito frescas…
A brisa também foi fresca!
Mas a estação terminou
—e não nos disseram nada.
É que o Tempo, bom amigo,
não apenas esperava,
mas sentava-se conosco,
E rindo-se dos ponteiros,
repetia: “fica mais!”
De repente, ele passou.
—também não nos disse nada.
Marcelo Rocha Brugger é revisor de textos e apaixonado por literatura. Vive em Belo Horizonte desde que nasceu, onde se formou doutor em literaturas clássicas e aprendeu a gostar de boas histórias – verdadeiras ou inventadas, tanto faz. Escreve por prazer: versos, crônicas e contos. É autor do romance 866R: Aqueles Dias, com o qual se aventurou pela literatura fantástica, durante a pandemia.
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