Pesquisa Datafolha dá algum alívio para Lula
Consideradas as circunstâncias, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode se dar por satisfeito com a aferição de sua popularidade na mais recente pesquisa do Datafolha.
Se em março o instituto havia detectado um empate técnico entre os que aprovavam (35%) e os que reprovavam (33%) a administração petista, desta vez a diferença voltou a se alargar —para 36%, o governo é ótimo ou bom, enquanto 31% o consideram ruim ou péssimo.
Trata-se de variações na margem de erro da sondagem, que é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, o que, a rigor, indica um quadro de estabilidade. De todo modo, a fotografia parece menos ruim para o Palácio do Planalto.
Ainda mais porque, entre uma pesquisa e outra, o governo colecionou trapalhadas gerenciais e derrotas legislativas que, ao lado da piora do cenário internacional, tornaram mais problemática a gestão da economia.
Foi nesse período que Lula decidiu pelo afrouxamento das metas de controle das contas do Orçamento, enquanto o banco central dos Estados Unidos indicou que os juros americanos ficarão altos por mais tempo. Mais recentemente, o Congresso devolveu uma medida provisória destinada a elevar a arrecadação de impostos.
A consequência mais visível dessa combinação de fatores foi a escalada das cotações do dólar, de menos de R$ 5 para mais de R$ 5,40. Ainda não se viram, porém, impactos na inflação e no emprego.
Resta claro que, neste seu terceiro mandato, Lula tem contado com margens bem mais estreitas de popularidade. Sua aprovação nunca ultrapassou os 38% apurados em março de 2023, no primeiro levantamento do Datafolha após a posse —quando encerrou seu segundo governo, em 2010, o petista marcava impressionantes 83%.
A mudança drástica de patamar reflete, obviamente, um panorama econômico muito menos empolgante que o do boom das matérias-primas de mais de uma década atrás. Não há mais ascensão social como antes, nem capacidade de aumento de gasto público sem consequências imediatas.
Reflete, também, o cenário político de polarização, no qual o vigor do bolsonarismo impulsiona reprovação a Lula que, desde o ano passado, não caiu abaixo de 27% entre os brasileiros aptos a votar.
À falta de ideia melhor, Lula prefere investir no antagonismo e reforçar laços com apoiadores mais fiéis. Assim fez nesta terça (18), em entrevista à CBN, ao voltar sua retórica contra o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
É uma escolha pobre e arriscada, mas que favorece os dois polos do espectro ideológico nacional.