terça-feira, outubro 8, 2024
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Favorito de John Steinbeck, jack rose tem muitas origens possíveis

Corria o ano de 1912. Chefão da jogatina ilegal, “Beansie” Rosenthal saía do Hotel Metropolitan, em Nova York, quando foi atingido por quatro balas, uma na cabeça. No seu meio, era uma morte natural.

Logo descobriu-se que o mandante fora Charles Becker, um policial corrupto. A testemunha-chave havia contratado os atiradores e um carro para fuga, seguindo ordens do policial. “Bald” Jack Rose era o nome da testemunha. É também o nome de um coquetel clássico.

Figura carimbada no submundo, o gangster delator viveu sob ameaças de morte até que, por cansaço ou medo, botou uma peruca na careca proverbial e fugiu para o interior, onde passou a viver como fazendeiro e religioso, fazendo sermões na igreja contra o crime. Arrependimento, estratégia de sobrevivência, desejo de mudança —reações típicas da espécie.

Ocorre que a primeira menção escrita ao jack rose data de 1899, portanto há outras origens mais plausíveis para o nome do coquetel. Pode ser menção ao general napoleônico Jean-François Jacqueminot, por sua vez homenageado no batismo de uma flor da cor do nosso drinque. Ao contrário de Bald Jack, Jacqueminot revelou-se fiel a Napoleão mesmo na cadeia, após a derrota em Waterloo.

Explicação mais pedestre para o coquetel que faz duas aparições em “O Sol Também se Levanta”, de Hemingway, estaria no ingrediente principal, applejack, destilado de maçã parecido com o Calvados e primeiro do tipo no Novo Mundo, e na cor rosa da poção, por conta do grenadine.

No romance de Hemingway, o jack rose é bebido pelo personagem central, Jake Barnes, correspondente na Primeira Guerra. Com um ferimento infeliz, não conseguia consumar sua paixão por Lady Brett. Restava afogar as mágoas. Nada melhor que esse mix de maçã, álcool, limão e romã (anagrama de amor).

O preparo ficou a cargo de George, bartender no Hotel Crillon, em Paris, um dos cantos favoritos do próprio Hemingway.

Outro famoso adepto do jack rose era John Steinbeck, autor de romances de conteúdo social, como “Ratos e Homens” e “Vinhas da Ira”. Em “Boêmios Errantes”, também localizado logo após a Primeira Guerra, há uma curiosa tabela —aos níveis do vinho na garrafa correspondem sentimentos e comportamentos:

“Logo abaixo dos ombros da primeira garrafa, conversa séria e concentrada. Cinco centímetros mais para baixo, lembranças doces e tristes. Mais oito centímetros, pensamentos sobre velhos e felizes casos de amor. Três centímetros abaixo, pensamentos sobre velhos e amargos casos de amor. Ao chegar ao fundo da garrafa, tristeza geral, sem motivo. Nos ombros da segunda garrafa, desânimo sombrio e profano. Dois dedos abaixo, uma canção de morte ou saudade. Mais um dedo, qualquer canção conhecida. As graduações terminam aqui, pois os caminhos se bifurcam e não há mais certeza de nada. Daqui em diante, tudo pode acontecer”.

Tudo. Mas a tabela é um tanto pessimista. Com o jack rose seria algo como: ao primeiro gole, suave iluminação. Ao segundo, uma melancólica percepção de como o prazer é fugaz. No fim da taça, discreta e calorosa alegria. Já nos primeiros goles da segunda taça, um desejo de abraçar o mundo. No meio, segredos revelados e, quem sabe, planos para o futuro. Ao final, exultação.

JACK ROSE

60 ml de applejack ou Calvados

22 ml de suco de limão

15 ml de grenadine

Bata os ingredientes com gelo e coe para uma taça coupe gelada. Finalize com um twist de limão.


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