segunda-feira, outubro 7, 2024
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Direita disputa narrativa sobre PL Antiaborto por Estupro

O aborto é assunto que mobiliza rápida e facilmente o campo evangélico. Por que então as informações sobre o PL Antiaborto por Estupro não têm circulado nos espaços online e presenciais de suas igrejas?


Na semana passada, especulei aqui se haveria uma ação orquestrada para evitar que o debate acontecesse nas igrejas. Mas não é o caso; o motivo para o silêncio é mais complexo.


Quem lê o texto do PL nota que seus proponentes são indiferentes ao sofrimento de quem engravida como consequência de estupro. O PL apenas propõe que o aborto após a 22ª semana de gestação seja interpretado como homicídio simples.


O objetivo foi criar uma situação de “perde-perde” para o governo. Se o presidente veta o projeto, passa a impressão de defender a legalização do aborto. Se ele não se manifesta —como fez inicialmente—, são os eleitores da esquerda que ficam descontentes, porque querem que haja menos punição para quem aborta.

Felizmente, a artimanha foi exposta, e os proponentes do PL, que esperavam constranger, terminaram constrangidos e adiaram a votação.


Evangélicos foram vítimas da mesma armadilha que travou o governo. Assuntos relacionados à política têm sido evitados nas igrejas desde a última eleição presidencial. A pessoa escolhe não falar sobre o PL para não se desgastar com seus pares de congregação, dando a impressão —equivocada— de defender a descriminalização do aborto.


Por esse motivo, a maioria dos cristãos se manifestou contra o projeto, se abstendo de defendê-lo publicamente. Afirmaram, dessa maneira, considerar desumano penalizar mais quem já foi vítima de violência sexual e engravidou.


Mas influenciadores de direita já atuam para recapturar o controle da narrativa entre conservadores, evangélicos ou não. Argumentam que o feto, após a 22ª semana, sexto mês de gestação, pode sobreviver em incubadeira e ser entregue para adoção. “Por que punir a criança pelo crime do estuprador?”, perguntam às suas audiências.


Se quiser vencer a disputa sobre o projeto, a esquerda deve seguir defendendo que o Estado não deve aumentar o sofrimento da mulher já vítima de violência. Mas perderá apoio de cristãos se a meta passar a ser a legalização do aborto para além do previsto em lei.


Mesmo evangélicos alinhados ao pensamento de esquerda —como o pastor presbiteriano Antônio Carlos Costa— são atacados por serem contrários à legalização do aborto. Esse tipo de crítica promove a percepção de que a esquerda quer o apoio dos cristãos ao mesmo tempo em que exige que eles abram mão de suas convicções de fé. Isso dificulta o diálogo.


spyer@uol.com.br


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