terça-feira, outubro 8, 2024
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O provincianismo intelectual francês

Todos nós admiramos a França, com razão. Se eu não tivesse desenvolvido recentemente uma alergia ao trigo, poderia viver exclusivamente de pão francês, com vinho francês, chocolate francês e queijo francês. Pensando bem, eu ainda posso comer tudo, menos o pão —embora o queijo fique muito melhor numa baguete.

Mas não admiro tudo o que é francês.

Os intelectuais franceses hoje em dia tendem a um provincianismo. Há uma falta de diversidade de opinião e rigidez de pensamento surpreendentes. Eles olham para dentro. Os brasileiros não são assim, e eu os admiro por isso. Os italianos também. Poloneses…

Você pode medir isso pela porcentagem de livros traduzidos do inglês, por exemplo.

Eu tenho um amigo holandês que foi fundador e diretor da Amsterdam University Press. O chefe de uma editora francesa viajava a Amsterdã todos os anos e fazia pouco caso dos livros de arte de Saskia. Desdenhava da arte da Idade de Ouro holandesa. Oh, meu Deus!

Talvez a virada para dentro venha da percepção francesa de que o inglês, não o francês, é hoje a língua franca e que eles, franceses, não a conhecem muito bem. Eu, a gringa monolíngue, dificilmente posso ficar indignada com o fato de as pessoas não saberem bem inglês.

Mas, para o seu próprio bem, nos negócios, no rock, nos computadores, em grande parte da ciência moderna, os jovens franceses devem trabalhar nesse sentido, bravamente.

Na Holanda e na Suécia, ou mesmo na modesta Bélgica, é difícil encontrar alguém que não seja bilíngue ou trilíngue —e na Suíça isso é impossível. Mais de 90% dos holandeses são fluentes em inglês. Não na França, onde apenas cerca de 4 em cada 10 pessoas afirmam ter a capacidade de manter uma conversa adulta em inglês.

Portanto, as técnicas de defesa são muitas. Rotule algo como “anglo-saxão” e depois vá embora com raiva. Por exemplo, em economia.

A maioria dos economistas franceses fora de Toulouse não entende de economia. Eles fazem matemática, mas não sabem que o preço é e deve ser determinado pela oferta e demanda humanas, não pelo Estado. Thomas Piketty, por exemplo. Eles pensam na economia do jeito que os advogados pensam. Fazem uma lei.

Experimentei isso algumas semanas atrás, falando sobre liberalismo para uma plateia de estudantes franceses de pensamento econômico que falavam inglês aos tropeços. Infelizmente, a nação de Voltaire e Tocqueville abraça o étatisme. Eles acreditam que ser moderno é ser iliberal.

Oh, meu Deus!

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves


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