sexta-feira, setembro 20, 2024
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Entre Nunes e Boulos, petista mantém um discurso para cada palanque

São Paulo — Com ordem expressa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para apoiar a campanha do deputado federal Guilherme Boulos (PSol), de um lado, e uma parceria política de anos com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), de outro, o vereador petista Jair Tatto (foto em destaque) tem calibrado seu discurso de acordo com o palanque em que sobe, para se manter aliado de ambos os líderes das pesquisas de intenção de voto à Prefeitura.

Tatto é membro de uma família que tem forte influência política e altos índices de votação em Capela do Socorro e nos bairros vizinhos da zona sul. Até o ano passado, havia dúvidas se o grupo se empenharia na campanha de Boulos, uma vez que um dos irmãos, Jilmar Tatto, chegou a disputar a eleição para prefeito contra Boulos em 2020 — teve apenas 5% dos votos e apoiou o psolista no segundo turno — e tinha intenções de se lançar novamente.

Integrantes da campanha de Boulos, contudo, afirmam que os Tatto vêm se empenhando na campanha do deputado do PSol e ex-coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), participando de uma série de eventos com ele na capital paulista. A exceção é Jair, que tem mantido um pé em cada canoa.

A bancada petista na Câmara Municipal vota contra o governo em temas estratégicos, como os projetos da gestão Nunes, mas faz parcerias com o prefeito pela liberação de emendas. No ano passado, o vereador Senival Moura, líder da bancada, chegou a participar de um corpo a corpo pré-eleitoral que Nunes fez com moradores da zona leste.

Críticas com Boulos

Há uma semana, no dia 21/6, Jair Tatto esteve em uma agenda de pré-campanha de Boulos e usou o termo “sem vergonha” para se referir a Nunes, em um discurso no qual fez críticas à falta de infraestrutura nos Centros de Referência em Assistência Social (CRAS), equipamentos públicos voltados para o atendimento de pessoas em vulnerabilidade social.

“O CRAS, que o Boulos coloca como propriedade, essa deficiência que existe, que não é culpa do funcionalismo, prejudica e dá argumento para esse sem vergonha falar que aquilo que é do governo federal não está chegando. É mentira. Eles não têm gente para atender no CRAS”, disse o vereador petista.

Afagos diretos

Já nesta sexta-feira (28/6), Jair foi até a Prefeitura e fez um discurso amistoso ao prefeito justamente ao tratar de uma tema ligado à disputa entre Nunes e o PT.

A equipe de Nunes transferiu para o governo federal um terreno de 30 mil metros quadrados em Cidade Tiradentes, no extremo leste da cidade, que dará lugar a um Instituto Federal, colégio técnico mantido pelo governo. Lula e Boulos estarão no terreno neste sábado (29/6), para uma cerimônia de início das obras.

Porém, o prefeito optou por não ir no evento por considerá-lo um “ato político” e fez uma série de críticas ao governo petista — em especial, pelo fato de não haver referências a ele ou à Prefeitura na placa instalada na obra.

Não é comum que vereadores de oposição falem nos eventos de Nunes. Mas Jair Tatto fez uso do microfone.

“Muito à vontade de estar aqui perto, prefeito Ricardo Nunes. Te conheço antes de sermos vereadores, de quem eu presidi na Câmara e que foi relator do Orçamento”, disse Tatto, iniciando seu discurso.

“O governo federal e o prefeito Ricardo Nunes, pelo bem das pessoas, eles são junto e misturado, porque eu conheço tanto o Lula quanto o Ricardo Nunes”, continuou.

Em seguida, o vereador ainda fez um afago mais claro ao prefeito: “Sobre o episódio da placa, eu acho lamentável”. O vereador prometeu que dirá que “foi cometido uma injustiça”.

Jair Tatto ainda parabenizou Nunes por ter lidado com a burocracia para libera o terreno para o instituto “em tempo recorde” e disse que sem o prefeito e seus auxiliares “não teriam mais dois institutos federais” na cidade. “E sem o presidente Lula também não teria”, disse.

Ele encerrou a fala com mais elogios, desta vez à forma “republicana” como o prefeito lida com os vereadores.

O Metrópoles tentou contato com Jair Tatto para falar sobre o assunto, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.

 

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