Herzog e a defesa da democracia, ontem e hoje
Neste 27 de junho, o jornalista Vladimir Herzog completaria 87 anos.
Seu assassinato, sob tortura, nas dependências do DOI-Codi de São Paulo, em abril de 1975, expôs a face mais irracional e cruel da ditadura e provocou uma onda de indignação social que conduziria, anos depois, à superação do regime militar no Brasil.
A data marca também os 15 anos de fundação do Instituto Vladimir Herzog. Criado em 2009 sob a inspiração de Clarice Herzog, viúva de Vladimir, hoje com 83 anos, o instituto nasceu para afirmar e propagar os princípios que o jornalista defendeu em vida: a justiça, a democracia e a liberdade de expressão. Princípios que continuam na ordem do dia num país que permanece imerso na cultura da violência, legado de um passado autoritário com o qual ainda não fomos capazes de acertar contas.
Conquistadas duramente ao longo das últimas décadas, as liberdades democráticas seguem sob a feroz ameaça daqueles que, pela força, insistem em jogar o país no abismo do passado, como na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.
A violência se materializa também no cotidiano das periferias das cidades e no campo, nas torturas nas delegacias, na militarização das polícias, no racismo estrutural, nos crimes de feminicídio, na negação dos direitos das minorias, na desigualdade de direitos e oportunidades.
Se a ditadura foi marcada pela censura e pela perseguição à imprensa, hoje jornalistas e comunicadores continuam a necessitar de proteção contra ameaças e agressões. As mortes do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira na Amazônia, em junho de 2022, são o exemplo mais notório da persistência dos ataques à liberdade de expressão, que prosseguem nas tentativas de descredibilização do trabalho da imprensa e na propagação estruturada dos discursos de ódio e das fake news por meio das redes sociais.
Num país que, ao contrário de alguns de nossos vizinhos latino-americanos, jamais puniu os agentes de Estado que cometeram torturas e assassinatos contra seus compatriotas, promover a memória e a justiça é essencial para a consolidação de uma sociedade verdadeiramente democrática.
Quando avançam propostas como a da militarização das escolas, é preciso reafirmar o nosso compromisso com uma educação pública inclusiva e de qualidade, que garanta o respeito aos direitos humanos e à comunidade escolar.
O Brasil e o mundo vivem um momento de ataques às instituições e à democracia, com riscos de graves retrocessos. Por essa razão, o Instituto Vladimir Herzog tem ampliado sua incidência política e a articulação com outras forças da sociedade civil, inclusive internacionalmente, como na recente missão que reuniu parlamentares do Brasil e dos Estados Unidos para um posicionamento conjunto contra as ameaças à democracia nos dois países.
Parte desse esforço será a abertura, no dia 1º de julho —ao público geral no dia 2—, da exposição “Sobre Nós – 60 anos de resistência democrática no Brasil”, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, o mesmo palco onde o Instituto Vladimir Herzog foi fundado.
“Sobre Nós” é um panorama histórico da luta de todos nós, ontem e hoje, pela democracia no Brasil.
E um alerta sobre os muitos nós da história que ainda precisamos desatar para conquistar nossa plena cidadania.
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