Desastre de Biden em debate eleva riscos
Uma das instituições basilares da democracia, o debate eleitoral é objeto de atenção extra devido a um episódio da crônica política mundial, o enfrentamento de 1960 entre John F. Kennedy e Richard Nixon.
Naquele primeiro duelo de presidenciáveis televisionado, o jovial e midiático JFK superou o rival de forma inequívoca. Nixon aprendeu a lição, tanto que elegeu-se duas vezes presidente depois, para renunciar em desgraça em 1974.
O impacto daquele debate reverberou por décadas, levando à crença de que o desempenho dos participantes define eleições. Casos análogos na periferia do Ocidente, como Fernando Collor versus Lula em 1989, reforçaram a mística.
Nos últimos anos, predominaram a profissionalização da política e a diluição argumentativa decorrente da inundação virtual de verdades fabricadas. Candidatos são treinados para não escorregar, e o empate quase sempre é a regra.
Não foi o que ocorreu na noite de quinta (27) em Atlanta, onde a rede CNN colocou frente a frente o presidente Joe Biden e seu antecessor, Donald Trump, que busca voltar à Casa Branca em novembro.
O democrata sofreu uma implosão de imagem, reforçando temores acerca de suas condições físicas e mentais para seguir no cargo.
Mostrando fragilidade, agravada por um alegado resfriado, Biden perdeu-se em respostas até corretas, mas não convincentes. Parecia que ficaria paralisado, fazendo sua equipe prender a respiração nas coxias do evento.
Trump foi o oposto. Apenas três anos mais novo do que Biden, aos 78 anos, demonstrou vitalidade inaudita no ocaso de seu governo. Pior para a democracia, dado que usou a linguagem corporal e a oratória afiadas para exercitar o pior que seu populismo pode oferecer.
Mentiu sobre dados econômicos e até sugeriu que estados democratas promovem o sacrifício de crianças. Esquivou-se de questões mais espinhosas mudando de assunto, expondo a falha do formato adotado pela rede americana, que não permitia contestações incisivas de fake news à mesa.
De modo alarmante para países em que a polarização segue viva, como o Brasil, o debate evidenciou a dificuldade da política tradicional de enfrentar o extremismo quando não há paridade de armas.
Nem mesmo a recente condenação penal de Trump afetou sua exibição. Ato contínuo, já surge o clamor para que Biden desista da candidatura. Parece tarde para tanto, e o real impacto da debacle do democrata ainda precisa ser aferido entre os vitais eleitores indecisos.
O mundo assiste apreensivo ao desenrolar do drama, ciente de que um novo governo Trump é garantia de instabilidade geopolítica e celebração de métodos autocráticos.