sábado, outubro 5, 2024
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Eduardo Paes: hater ou lover da 'paulistada'?

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, domina como poucos as redes sociais. Consegue atrair simpatia até daqueles que não votariam nele por diferenças ideológicas, mas que o fazem sem muito constrangimento quando, quase sempre, as opções não são opções. Quatro anos de Marcelo Crivella deixaram o carioca traumatizado.

O pastor detestava tudo o que representa o Rio: praia, boteco, futebol e Carnaval. Paes é, sem dúvida, apaixonado pela cidade e, mesmo na vida política, faz questão de desfilar a típica personalidade carioca: simpatia, hospitalidade, malemolência, mas também malandragem e arrogância.

Apesar de o vídeo em que ele anuncia a volta da Bolsa de Valores ter feito muito sucesso entre seus eleitores, ainda não entendi se Eduardo Paes é hater ou lover da “paulistada”, como ele se refere aos paulistanos. O roteiro, aparentemente feito por outro carioca, é um festival de clichês que resumem o possível investidor interessado no mercado como um bobalhão que joga beach tênis, veste colete, usa copo Stanley e pontua a fala com interjeições. Só faltou chamar São Paulo de “Sampa”, para parecer mais íntimo, coisa que nenhum local (nascido ou adotado) faz.

O vídeo ignora como o paulistano tem adoração pelo Rio, como valoriza a beleza natural, o estilo de vida despojado, a alegria das pessoas e, por isso, lotam a ponte aérea e despejam milhões em hotéis, bares e restaurantes. A postagem do prefeito viralizou nas redes sobretudo porque agrada aos cariocas que se identificam com esse personagem que o prefeito assumiu, esperto, com um rei na barriga e que se orgulha do seu bairrismo rastaquera.

No canal de humor Porta do Fundos já não tem a menor graça essa estereotipação do paulistano, mas, vá lá, não sou sommelier de piada, tem gosto para tudo. Não posso dizer o mesmo sobre a mensagem que o gestor da segunda maior cidade do Rio passa ao tratar o público-alvo de seu anúncio como um bando de bocós cafonas. Mas também tem dinheiro que aguenta tudo, até a marra do prefeito do “Balneário”, apelido carinhoso que o Rio ganhou de gente que não se deslumbra com o pôr do sol, por mais bonito que ele seja.

Rio sempre teve a praia, já foi Capital do país, teve o protagonismo econômico que Paes quer recuperar de alguma forma. São Paulo, bem, é São Paulo. Como diz um amigo carioca, não é a melhor cidade do Brasil, é a única. É muito mais do que a Faria Lima. A própria Faria Lima é muito mais do que a Faria Lima. Diversa, cosmopolita, vibrante, moldada por gente de todos os cantos do país, que dá um duro desgraçado para viver numa paisagem pouco sedutora, às vezes insalubre, para ganhar dinheiro, o mesmo que Paes quer atrair com o apelo da vista para o mar. Se depender desse tipo de comunicação, continuará tudo igual.


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