segunda-feira, outubro 7, 2024
Noticias

O problema não é você

Cuidado com o “ghosting” —perdido, balão, chá de sumiço. Cuidado com o “love bombing” —demonstrações exageradas de afeto de um narcisista com o intuito de te iludir e te controlar. Cuidado com o “orbiting” —a perda de tempo com um cara que “não fode, nem sai de cima”.

Cuidado com o “breadcrumbing” —viver de migalhas de afeto. Cuidado com o “benching” —ser tratada como segunda opção e deixada no banco de reserva. Cuidado com o “catfishing” —ser enganada por alguém que não é quem diz ser nas redes sociais.

Cuidado com o “pocketing” —quando o parceiro te “coloca no bolso” e não assume a relação para amigos e familiares. Cuidado com o “curving” —quando o parceiro nunca é direto a respeito de suas intenções.

Cuidado com a “situationship” —relacionamento que parece um namoro, mas não é. Cuidado com o “dating burnout” —a sensação de esgotamento após muitas tentativas frustradas de encontrar um parceiro.

A maioria dos artigos sobre relacionamentos contemporâneos voltados para mulheres está recheada com essas expressões. Como se para não sair perdendo no jogo da sedução —cada vez mais “gamificado”, segundo especialistas—, fosse preciso decorar um novo glossário e ter feito um bom cursinho de inglês.

Quebrei a cabeça para encontrar um termo que unificasse todos os outros e cheguei à seguinte sugestão: “wolfing”, que vem de lobo, em inglês. Cuidado com o Lobo Mau, ele só quer te comer!

Mas será que vale quebrar tanto a cabeça para não quebrar a cara? Em tempo: é fundamental que mulheres falem abertamente sobre essas práticas que não têm nada de contemporâneas. Em um passado não tão distante, homens não eram expostos, nem questionados, sobre a maneira como tratavam suas parceiras na intimidade.

Essas atitudes insensíveis, desprezíveis, desumanas —ou, em bom português, misóginas— sempre foram naturalizadas. Homem é tudo igual, homem é assim mesmo…

Por outro lado, o alarde em torno desses “fenômenos recentes” engrossa um coro heteropessimista que parece deixar mulheres cada vez mais acuadas. A essa altura do campeonato, já entendemos que generalizações são perigosas. E, em um patriarcado, já sabemos de que lado a corda sempre estoura.

Não importa quantos termos sejam cunhados, uma frustração afetiva —que envolve inúmeros fatores subjetivos— nem sempre vai caber em uma caixinha com um rótulo genérico em inglês.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

source

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

WP Twitter Auto Publish Powered By : XYZScripts.com