domingo, outubro 6, 2024
Tecnologia

Por que esquecemos o etanol e olhamos para os elétricos? – Estado de Minas

Diante de enormes desafios, optamos por valorizar tecnologias importadas em detrimento das nacionais, que poderiam trazer inúmeras vantagens estratégicas
Dos 58,6 bilhões de litros de combustível que serão utilizados em 2024, 31 bilhões são de etanol

Para garantir um futuro sustentável, a humanidade precisa enfrentar o desafio das mudanças climáticas. O transporte de pessoas e produtos é responsável por 23% das emissões anuais globais e os veículos rodoviários representam 16,5% do total. Para tornar a situação ainda mais crítica, até 2050, o transporte
de passageiros deve crescer 79% e o de mercadorias 100%.
 

Nesse contexto, o desenvolvimento de tecnologias para o setor automobilístico tem recebido especial atenção e, atualmente, a moda são os carros elétricos. Embora utilizem uma tecnologia que já foi tentada três vezes na história automobilística e fracassou, os elétricos nunca estiveram tão em alta. Prova disso é que as aquisições desses modelos cresceram 91% em 2023, e eles já representam 10% do total de vendas de veículos no Brasil.

 

 
 
 
Mas por que estamos focados em adotar uma tecnologia que vem de fora ao invés de valorizar e incentivar aquela que nasceu aqui? Em todo o país, mais de 76% da frota é flex e dos 58,6 bilhões de litros de combustível que serão utilizados em 2024, 31 bilhões são de etanol. Será que nossa tecnologia é tão
ruim assim que vale mais a pena importar a de outros?

 
 
De maneira direta e objetiva, não. A tecnologia do etanol é boa e traz uma série de benefícios. Estamos falando de um biocombustível que movimenta US$ 13,4 bilhões, emprega diretamente 705 mil pessoas e possui uma cadeia de fornecedores composta por mais de 70 mil empreendimentos. Além disso, o
etanol ajuda a iluminar 9.3 milhões de casas por ano. O problema claramente não é técnico, mas sim de estratégia ou de falta dela.
 
As crises do petróleo, o declínio do etanol pelo crescimento do preço do açúcar, e o apagão elétrico de 2001 já deixaram claro que quando o assunto é energia, o caminho único é sempre o pior. Então, não se trata de investir apenas no álcool ou no elétrico. Os modelos híbridos apresentam maior capacidade de adaptação à mudança, mas, no Brasil, apenas duas fabricantes combinam o motor elétrico com sistemas de combustão a etanol e nenhuma delas apresenta o sistema híbrido mais robusto.

 
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Sim, nem todo carro híbrido é igual. Existem três diferentes tecnologias: a MHEV ou híbrido leve utiliza um pequeno motor elétrico para auxiliar o motor a combustão, mas é incapaz de mover o carro sozinho. A HEV ou híbrido convencional possui motores elétricos que podem mover o carro em trajetos curtos e de baixa velocidade, mas não podem ser carregados na tomada e possuem baixa autonomia no motor elétrico. E por fim, temos a PHEV ou híbrido plug-in que permite maior autonomia elétrica e pode ser recarregado em uma tomada.

O que está acontecendo por aqui é que os híbridos disponíveis privilegiam a gasolina ao invés do etanol, devido à importação de tecnologias que podem fazer sentido em outros países, mas que são prejudiciais ao Brasil.
 
Para a China, por exemplo, os carros elétricos fazem sentido, uma vez que eles não possuem a tecnologia flex e importam cerca de 70% de todo o combustível necessário.

 
Ao contrário do que muitos pensam, a tecnologia do etanol não parou nos anos 80. O etanol de segunda geração e o etanol de milho são dois excelentes exemplos disso. Se o etanol de primeira geração é sustentável por compensar, durante o crescimento da cana, a maior parte do CO2 emitido, o de segunda geração é ainda mais, pois possui uma pegada de carbono 30% menor e é produzido a partir de resíduos vegetais que seriam descartados, o que contribui para a economia circular.

 
Talvez esteja na hora de parar de olhar para aquilo que é bom para os outros e começar a mirar naquilo que é bom para o Brasil. Sem dúvida, as mudanças climáticas impõem diversos riscos, mas não falta no país capacidade de entregar bons resultados diante dos desafios.
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