Nunes tropeça com BO de sua mulher e bolsonarismo em sabatina
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) se mostrou preparado para defender sua gestão em São Paulo na sabatina Folha/UOL, mas derrapou feio ao ressuscitar o caso da acusação de agressão por sua mulher e se mostrar desconfortável em seu papel de candidato de Jair Bolsonaro (PL) na cidade.
Estreando como protagonista em uma campanha majoritária, Nunes deixou clara a tática que irá aplicar contra Guilherme Boulos, com quem divide a liderança na corrida eleitoral segundo o Datafolha.
O deputado federal do PSOL é invasor, depredador, defende a desordem e é extremista, para ficar em alguns dos rótulos sacados pelo prefeito para descrevê-lo. Nunes segue a cartilha das pesquisas qualitativas feitas por todos os partidos, em que eleitores dividem a percepção que têm de candidatos, e as amplifica.
Nenhuma novidade aí. Quando foi sabatinado, Boulos mostrou os limites que tem ao lidar com essas acusações, decorrentes de sua atividade de 20 anos como líder de sem-teto na capital.
Nunes até deu o roteiro de sua propaganda futura na TV, lembrando o episódio de 2015 em que o então ativista invadiu um prédio do Ministério da Fazenda em São Paulo. E trouxe um epíteto novo, o de legalizador de rachadinhas, devido à absolvição do deputado André Janones (Avante-MG) em caso relatado por Boulos.
Nunes segue se mostrando desconfortável no papel de representante da polarização na cidade. Rejeita o rótulo de bolsonarista e diz que o ex-presidente apenas o apoia, sem pedir nada em troca —como se a vaga de vice dada ao coronel Ricardo Mello Araújo (PL) e sua presença junto ao entorno do ex-presidente fossem triviais.
O problema é óbvio: também segundo o Datafolha, Bolsonaro é o padrinho mais rejeitado na cidade. A história das disputas recentes mostra que tal correlação não é direta, e o ato pró-Bolsonaro de 25 de fevereiro na Paulista foi um marco na tomada de decisão da aliança com o antecessor de Lula (PT). Minimizou os atos do 8 de janeiro de 2023.
Também foi evasivo sobre a pressão que sofre de Milton Leite, o mandachuva da União Brasil que vende a ameaça de abandoná-lo.
Nunes foi bem melhor quando falou, com desenvoltura, de programas e números da prefeitura. Estava bem equipado para rebater críticas, como no caso das contratações emergenciais de sua gestão. Independentemente do mérito de suas respostas, soou convicto.
O pior desempenho do prefeito veio quando ele foi confrontado sob pressão sobre temas mais delicados.
Quando questionado se não estaria traindo a memória de Bruno Covas (PSDB), de quem herdou a cadeira com a morte do tucano em 2021, por aliar-se a Bolsonaro, em vez de responder admoestou as entrevistadoras.
O mais grave ficou para o final, quando o natural questionamento sobre o caso do boletim de ocorrência que sua mulher registrara em 2011 o acusando de agressão verbal e ameaça ganhou dimensão renovada.
Em vez de dizer que tudo estava resolvido e ir em frente, Nunes sacou uma nova versão do episódio, sugerindo que o BO foi forjado. Injetou vida em algo que havia ficado para trás e que, ao menos na campanha vale-tudo das redes sociais, tem tudo para ser explorado.