domingo, outubro 6, 2024
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Maiakóviski e a luta da vodca contra o tédio

Todo adolescente tem seu poeta de estimação. Para muitos foi Maiakóvski. Impossível ficar indiferente aos seus brados líricos, cheios de sátira e inovação sonora, com ideias verdadeiramente revolucionárias. Ele era Che Guevara, James Dean e Jim Morrison num só. Como eles, mudou as regras do jogo; como eles, morreu cedo, no auge. E virou símbolo.

Entusiasta da Revolução de 1917 na Rússia, mas crítico dos burocratas e cegueiras artísticas, soltava slogans no meio dos versos. Um dos mais famosos, que inspirou Caetano: “Brilhar como um farol/brilhar com brilho eterno/gente é para brilhar/que tudo o mais vá pro inferno.”

A frase “Melhor morrer de vodca que de tédio” fez ainda mais barulho. Ler isso justamente no momento em que se descobre o prazer inebriante de um bom copo é fatal. Claro que é melhor morrer de vodca. Tédio é tortura.

Em sua peça “O Percevejo”, Maiakóvski cria um sujeito que fica congelado e é descoberto 50 anos depois, intacto. Com ele, estão um percevejo, um cigarro, um violão e uma vodca. Pois não morreu de tédio. Sobreviveu para ser atração turística num zoológico, “numa sociedade asséptica e puritana”, como escreveu Augusto de Campos. Era o receio do poeta com os rumos da URSS.

Desenhista de cartazes satíricos e de propaganda, Maiakóvski era muito visual, sempre usando palavras do cotidiano. Tome-se este verso de “De rua em rua”: “O lampião calvo/despe voluptuosamente/da rua/uma meia preta”.

Ainda que fosse avesso ao romantismo, sua voz parece arrancada do peito, como em “A flauta-vértebra”, na tradução de Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman: “A todas vocês/que eu amei e que eu amo,/ícones guardados num coração-caverna,/como quem num banquete ergue a taça e celebra/repleto de versos levanto meu crânio.”

Arrebatado, usava de todos os recursos para se fazer ouvir. Acreditava que a revolução da sociedade só seria completa se houvesse uma revolução na arte. “Primeiro/ é preciso/ transformar a vida-/para cantá-la em seguida”. Lia os poemas em comícios, no teatro, na rádio, e fazia cinema – como ator e roteirista. Era um popstar multimídia. Dizia que “Nosso arsenal é o canto”.

Sempre debatendo-se contra o tédio, afirmava a embriaguez alegre, fosse ela real ou figurativa – “Bebe e celebra! Desata nas veias a primavera!”. Em “Jubileu”, dialoga com Púchkin, o poeta nacional da Rússia: “Há um velho sistema:/Vamos encher a cara!” As exclamações são pilares de seu espírito, e também elementos gráficos, que pontuam a arquitetura dos versos, tão elaborada.

Desprezava a burguesia e os críticos de nariz empinado. No poema para Iessiênin, zomba dos moralistas que consideram o poeta “refratário à sociedade” (“incompreensível para as massas”), por conta de “muito vinho e cerveja”. É conhecido seu dístico “Come ananás, mastiga perdiz/Teu dia está prestes burguês”.

Ananás era um signo recorrente. “Bananas, ananás! Pencas felizes/vinho nas vasilhas seladas…”Ou em “A vocês! [Burgueses]”, “que só pensam encher a pança e o cofre”, “Mil vezes antes no bar às putas/Ficar servindo suco de ananás.”

Nada melhor, pois, que erguer a taça a Maiakóvski com um pineapple martini, que leva a vodca russa e ananás. Um brinde para “arrancar alegria ao futuro!”

PINEAPPLE MARTINI

Ingredientes

60 ml de vodca

45 ml de suco de abacaxi

15 ml de suco de limão

10 ml de xarope de açúcar (1:1)

Modo de preparo

Bata os ingredientes com gelo e coe para uma taça martini.

Decore com uma fatia de abacaxi.


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