Fundação Kofi Annan visita espaço de gastronomia social no Brasil
Uma das coisas que mais gosto é receber pessoas e instituições na minha casa. Eu me refiro, é claro, ao Refettorio Gastromotiva, espaço criado por mim, Massimo Bottura e Ale Forbes, em 2016, no bairro da Lapa, como legado dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro naquele ano.
A visita dessa semana foi especial. Na cidade para agenda do G20, tive a honra de receber a Comissão de Segurança Alimentar da Fundação Kofi Annan, representadas pela minha amiga Mariana Vasconcelos e por David Nabarro, de quem sou grande admirador. Eles estavam acompanhados de Patricio Cuevas Parra e Ayooshee Dookhee, e também de Caitlin Smethurst Davis, da Gates Foundation, e Paul Newnham, do Chefs Manifesto.
Por 20 anos, venho aprendendo as dimensões e a interdependência dos sistemas alimentares, com os grandes desafios globais que tangem, principalmente, as camadas menos abastadas.
Tive a honra de conhecer o ex-secretário geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Kofi Annan, em 2005, na sede da organização. E a conversa que tive com ele, naquela ocasião, é uma das grandes inspirações que tive para fundar a Gastromotiva. Ter contato com pessoas que dão continuidade ao seu legado me faz aprender e evoluir ainda mais.
Mariana Vasconcelos, assim como eu, é Young Global Leader, e tem um trabalho de fomento e incentivo às atividades do pequeno agricultor. Ela fornece dados, sobretudo climáticos, a eles, e os conecta com indústrias de diversos ramos.
Em nossas conversas, Mariana sempre traz percepções sobre os sistemas alimentares do campo e ideias e sugestões de como mitigar a fome nessa região, que ainda sofre com insegurança alimentar.
Aqui fica minha sugestão, embasada pelos longos papos que tivemos, para quem trabalha com hospitalidade e alimentação: comprem do pequeno agricultor, rural ou urbano, para trabalhar e movimentar sua cadeia de valor, contribuindo assim para uma sociedade economicamente e ambientalmente mais saudável.
David Nabarro conheci em 2014, no Fórum Econômico Mundial. Em todos os debates de que participa, ele traz impacto com sua experiência pessoal e profissional. É um grande líder e pensador, e atua em vários conselhos de ONGs pelo mundo. Por anos, encontrei ele e criei uma profunda admiração, e sempre mantenho contato na busca de conhecimento para aprofundar minha atuação nas comunidades do Brasil.
Claro que o combate à fome é pauta na discussão nos espaços de tomada de decisão de todo o mundo. Mas cada país tem suas prioridades e peculiaridades, muito ligadas ao momento econômico que enfrentam.
E eu consigo ver essa consequência das desigualdades sociais diretamente nas comunidades em que eu atuo. Então a grande pergunta é: como você cria essas políticas públicas de mitigação de pobreza, ouvindo comunidades e lideranças comunitárias? Nisso, eu e David Nabarro nos conectamos.
Bom, se consegui resposta para esse questionamento global ainda não sei dizer, mas um norte na minha base eu já tenho. É com a Gastromotiva que desenvolvo a inovação, e é no Refettorio que escuto as pessoas na ponta, onde consigo ter diferentes olhares e perspectivas sobre um mesmo tema.
Assim, tenho contato com o olhar do chef, do beneficiário, do aluno, do voluntário e de quem mais frequenta esse grande espaço de potência.
Por isso, convidei a Comissão da Fundação Kofi Annan para participar do voluntariado do serviço de salão do Jantar Gastronômico Social, que acontece todas as noites. Nabarro, Mariana e companhia ficaram maravilhados com a experiência de atender os beneficiários olhando no olho de cada um.
A boa impressão deles foi a prova de que, lá em 2005, depois de conversar com o próprio Kofi Annan, escolhi o caminho certo ao decidir mergulhar de cabeça na gastronomia social.
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