segunda-feira, outubro 7, 2024
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Natureza como mercadoria

A BR-319 que liga Porto Velho a Manaus em um trecho de aproximadamente 600 km tem sido há anos palco de polêmica entre os movimentos sociais organizados que buscam proteger as 98 áreas protegidas e os 160 km² de floresta pública não destinadas e os direitos dos povos indígenas e extrativistas.

O estudo publicado em 2009 pela CSF intitulado “Eficiência econômica, riscos e custos ambientais da reconstrução da rodovia BR-319” alertava que a reconstrução dificilmente representaria um investimento eficiente aos recursos públicos brasileiro. A quem interessava um empreendimento que traria destruição ambiental, grilagem, desmatamento, mortes de animais e perda de direitos das populações indígenas? Os agronegócios e seus políticos investiram na reconstrução, independentemente dos alertas dos danos que seriam causados à natureza e aos direitos indígenas.

Nesse ínterim, os governos estaduais investiram na recuperação da estrada, sem levar em conta os diversos questionamentos técnicos do Ibama ao Plano Básico Ambiental. O Observatório do Clima entrou com uma ação civil pública pedindo a anulação da LP nº 672/2022 para a reconstrução e asfaltamento do trecho central da BR 319. A 7ª Vara Ambiental e Agrária da Seção Judiciária do Amazonas suspendeu a Liminar. Porém, é bom que o leitor saiba como está a BR.

Como dizem aqui na minha região, a BR está um tapete. No trecho citado na liminar, falta asfalto, porém, está compactado e sem atoleiros, já que os governos investiram em recuperar, passando por cima dos pareceres técnicos do Ibama. Os caminhões, veículos de menor porte e ônibus cruzam a estrada levantando poeira e, em muitos dos casos, atropelando a fauna silvestre.

No caso dos caminhões carregados de madeira, é bem provável que tenham sido retirados ilegalmente de áreas protegidas, já que quase não há fiscalização dos impactos para a região. Os ônibus vão diariamente em direção a Manaus, Porto Velho, Lábrea e outros locais, sem qualquer fiscalização ou controle. A região sofre desmatamento, queimadas, grilagem de terras que avançam cada vez mais ampliando os danos à natureza.

O simples anúncio do possível asfaltamento em 2020 fez com que houvesse um aumento de desmatamento. As grilagens, as pastagens, o desmatamento e queimadas aumentam e os sonhos e compromissos do Brasil de cumprir as metas de redução das emissões de gases de efeito estufa em 53% até 2030 certamente somem na fumaça que cobrem os céus da Amazônia brasileira, destruída pela falta de implementação das políticas públicas de proteção da floresta e pela ganância dos homens e mulheres que, à frente de seus negócios, veem a natureza como mercadoria a ser traficada.


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