Nunes passa a negar que fez ataque a Boulos após adversário acioná-lo na Justiça
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) passou a negar que, em fala na convenção do PL, tenha se referido ao seu principal adversário na eleição, Guilherme Boulos (PSOL). Isso ocorre depois de o deputado federal entrar com uma ação de danos morais na Justiça por causa da declaração do prefeito.
No evento, realizado na segunda-feira (22), o prefeito, sem mencionar o nome de Boulos, chamou-o de vagabundo, invasor e sem-vergonha.
“Quero agradecer a cada um dos senhores por dar esse voto de confiança para que a gente possa dar continuidade a esse trabalho e vencer o invasor, vencer esse vagabundo desse sem-vergonha”, disse.
Na sexta-feira (26), após Boulos acionar a Justiça, o prefeito enviou uma nota afirmando que não havia mencionado o deputado.
“Eu não cito diretamente nenhum candidato na minha fala. Se o [Guilherme] Boulos vestiu a carapuça e está se reconhecendo como o ‘vagabundo’, ele deve ter uma boa razão para isso”, declarou.
A Folha questionou a assessoria da pré-campanha de Nunes a respeito de quem, então, o prefeito estava falando, mas não houve esse esclarecimento. Em relação ao processo na Justiça, a pré-campanha do prefeito divulgou que ainda não havia sido citada.
No evento do PL, a fala de Nunes, um aceno do prefeito à plateia bolsonarista, arrancou aplausos do público. O prefeito aguardou o silêncio e emendou: “Nós estamos a 2 meses e 14 dias para poder dar o resultado nas urnas”.
A convenção do PL confirmou o pré-candidato a vice na chapa de Nunes, o coronel Ricardo Mello Araújo, que foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Segundo o coronel da reserva da Polícia Militar, Bolsonaro não pôde ir à convenção porque tinha outro compromisso. “São mais de 5.500 municípios”, emendou.
Também no evento Nunes criticou, de maneira indireta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), alvo de memes sobre aumento de taxas após divulgar um pacote de medidas para ampliar a arrecadação.
“Nós reduzimos impostos e acabamos com taxas, diferente do que estamos vendo de criação de taxas”, disse. E finalizou com “Ordem e Progresso”, em mais um gesto ao bolsonarismo.
Os acenos de Nunes ao campo político do ex-presidente se intensificaram desde a entrada de Pablo Marçal (PRTB) na disputa paulistana.
Sob risco de perder votos da direita para o ex-coach, o prefeito teve que deixar mais explícita a proximidade com Bolsonaro, mesmo com a a rejeição do ex-mandatário na cidade —segundo Datafolha do fim de maio, 61% dos moradores da capital dizem que não votariam de jeito nenhum em um candidato apoiado por Bolsonaro.
Como mostrou a coluna Painel, a ação protocolada por Boulos na quinta-feira (25) pede à Justiça que Nunes seja obrigado a se retratar publicamente e a divulgar em suas redes sociais o currículo do deputado federal.
Na peça inicial, o advogado que representa Boulos argumenta que o ataque de Nunes contém fake news e discurso de ódio com “intuito de manchar a imagem, a honra e reputação do autor [Boulos], colhendo benefícios eleitorais”.
A ação lista as atividades de Boulos como coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e como professor em diferentes instituições, além de sua graduação em filosofia e mestrado em psiquiatria, ambos pela Universidade de São Paulo.
“Essa vasta trajetória de vida acadêmica e profissional em nada se assemelha aos absurdos xingamentos proferidos pelo réu, como ‘vagabundo’, ‘invasor’ e ‘sem-vergonha’, que visam depreciar a imagem do autor como se fosse alguém que não trabalhasse, que vivesse às custas alheias e não com o fruto de seu próprio trabalho”, diz o advogado.