domingo, outubro 6, 2024
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Custo de R$ 4 bilhões: governo de SP no Centro é positivo, mas precisa ser bem pensado

projeto de mudança da sede do Governo Estadual de São Paulo gerou reações controversas. Com um orçamento que pode chegar a R$ 4 bilhões, a ideia é concentrar os órgãos públicos num grande edifício a ser construído. O argumento utilizado pelo governo é que trazer mais órgãos para o centro vai economizar aluguéis e melhorar as condições da região; já os críticos dizem que são falácias.

Projeto que prevê transferir o Governo de SP para o Centro da Capital

Raquel Rolnik, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, comenta a questão. Segundo ela, o argumento de que economizaria aluguel pode ser contraposto com o alto custo inicial; já a ideia de que a nova sede revitalizará o centro é polêmica, pois deslocará moradores e pode, na verdade, até piorar a já precarizada situação da região.

Ocupando o centro

A ideia de transferir a sede do governo, que hoje está no Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, para o centro em si não é polêmica. Inclusive, é julgada como muito necessária por especialistas. José Cazzolato, geógrafo e pesquisador associado do CEM – Centro de Estudos da Metrópole da USP, comenta: “Do ponto de vista de se reunir no centro um grande ícone, que é uma referência primeira do Estado de São Paulo, me parece que estar no Palácio dos Bandeirantes ou estar no centro da cidade é uma grande diferença”. Além disso, ele afirma que a sede estadual estar perto da municipal ajudaria muito na questão da integração e comunicação, o que, segundo ele, é um ponto deficiente com frequência.

Sobre realocar as pessoas, ele concorda que isso deve ser bem-feito e bem pensado. Mas também usa o ditado português para expressar a questão do ponto de vista urbanístico: “Sem quebrar ovos não se faz omelete”. “É um processo que não é uma violência da cidade no sentido geral. Pode ser que para algumas pessoas que estão ali isso significa um prejuízo, mas se você olhar individualmente, você não faz nada.” Ele explica que mudanças como essa tem que oferecer compensações aos moradores, mas que se quiser agradar a todos, a cidade não se transforma. O projeto pressupõe demolir ao menos cinco quadras, ocupadas atualmente por cerca de 800 pessoas, segundo os dados do Censo populacional do IBGE de 2022. Fora isso, o terminal Princesa Isabel também teria que ser desativado para a construção do novo centro, comprometendo 18 linhas de ônibus.

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Contrapontos

Raquel Rolnik é mais cética quanto ao projeto. Primeiro ela reconhece também o princípio positivo de se trazer a sede. Via exemplo da Prefeitura que, segundo a professora, “é uma das maiores fontes de emprego na área central de São Paulo. Ela é muito importante porque ela promove não só empregos, mas também todo o movimento e uso que dinamiza na área central”. Assim, ela concorda em parte com Cazzolato: “Nesse sentido, transferir órgãos do Governo do Estado para o centro pode ser positivo, sim”.

Por outro lado, ela afirma que a maneira de fazer isso deve ser muito bem pensada. Ela comenta que metade dos órgãos estaduais já se encontra na região central, e que o projeto induz um pensamento equivocado de que o governo estaria espalhado pela cidade, o que não é verdade.

O que ela critica no projeto é que o novo Centro Administrativo concentraria quase todos os órgãos em poucos blocos dos Campos Elíseos, transferindo inclusive os que já se encontram nas redondezas. Escritórios na Sé, Santa Ifigênia ou República, por exemplo, seriam desocupados, prejudicando a região ao diminuir o movimento e tornando espaços, agora ocupados, improdutivos. Dessa forma, a ideia vai na contramão do que ela mesma se propõe a melhorar.

Alternativas

Levantamentos do núcleo de estudos LabCidades, do qual Raquel Rolnik é inclusive coordenadora, e do coletivo Fórum Aberto Mundaréu da Luz, apontam meios alternativos para a situação. A ideia é abordar a questão de concentrar os órgãos administrativos na região central, seguindo a ideia do governo, mas de uma forma democrática, barata e saudável do ponto de vista urbanístico.

O Projeto Campos Elíseos Vivos, fruto desses estudos, indica que “utilizando apenas imóveis vazios e subutilizados do bairro Campos Elíseos, seria possível viabilizar 3.500 unidades habitacionais ou comerciais, sem precisar demolir prédios históricos nem remover a população local”. Isso significa que já existem espaços no centro aptos a receberem os órgãos localizados hoje no Morumbi e afins, e que uma grande quantidade de dinheiro e transtornos para a população poderia ser economizada.

De acordo com a arquiteta, integrar a mudança das sedes com as demandas do centro possibilitaria “novas intervenções para atender tanto moradia de quem precisa quanto comércio, serviços e um conjunto de funções e atividades que podem totalmente conviver na área central”. Ou seja, não só a proposta evita prejuízos, como também oferece benefícios nos pontos mais em falta da região: ocupação, movimento e qualidade de vida.

Ela afirma que “é absolutamente viável e possível” trabalhar com a ideia de reabilitar vários edifícios que estão localizados hoje na área central de São Paulo para poder acolher esses órgãos de Governo do Estado. Em suma, o governo pode ocupar o centro sem deslocar moradores, com baixo custo e ao mesmo tempo melhorar as condições da região. Raquel comenta: “Não precisa de forma nenhuma destruir pedaços inteiros do centro para ficar construindo edifícios novos, torres corporativas etc.”.


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