domingo, outubro 6, 2024
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BC mostra que tolerar inflação terá preço alto

O Banco Central deu uma importante indicação na ata da reunião da semana passada de seu Comitê de Política Monetária, quando se decidiu manter a taxa básica de juros, a Selic, em 10,5% ao ano.

“O comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, afirma o documento, divulgado nesta terça (6).

Por óbvio, a mera possibilidade de elevar a já escorchante Selic é, em si, má notícia, com riscos para a atividade econômica, o emprego e o endividamento público e privado. Dado o contexto, porém, é bem-vinda a mostra de compromisso da autoridade monetária com o controle da inflação.

A unanimidade destacada no texto é uma informação fundamental. Significa que os quatro diretores indicados por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acompanharam os outros cinco membros do comitê na disposição anunciada de fazer o necessário, mesmo que à custa de sacrifícios, para manter o poder de compra da moeda.

Até o final do ano, Lula apontará mais dois nomes para o colegiado —em menos de cinco meses, portanto, seus escolhidos serão maioria na cúpula do BC. Com seus frequentes ataques demagógicos ao órgão autônomo e aos juros, o mandatário criou o temor de que haverá maior tolerância com a inflação a partir da troca de comando.

O cenário econômico deste ano se mostrou mais adverso que o esperado, dificultando o abrandamento da política monetária. Juros americanos acima da expectativa levaram à alta do dólar, que encarece os produtos importados e pressiona os preços aqui. Na segunda-feira (5), especulações sobre uma recessão nos EUA derrubaram Bolsas de Valores pelo mundo.

Tais circunstâncias escancararam os perigos da imprudência orçamentária de Lula, que contribuiu para uma desvalorização do real mais aguda que a da maioria das moedas mundiais. Só recentemente o governo petista tomou providências, ainda tímidas, para conter a escalada do gasto público.

Com retórica mais incisiva, a ata do Copom listou esses perigos domésticos e externos para o controle do IPCA —que, pelas projeções da entidade, estão em 4,2% neste ano e 3,6% em 2025, acima, portanto, da meta de 3%.

Lula deveria ajudar a si próprio com medidas mais fortes na área fiscal e indicações de sólida reputação para o BC. Como resta mais da metade do mandato presidencial pela frente, talvez os riscos de agora inspirem maior prudência.

O BC fez sua parte. A descrição objetiva da conjuntura e o compromisso com as metas elevaram o preço de uma eventual tolerância futura com a inflação.

editoriais@grupofolha.com.br

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