segunda-feira, setembro 30, 2024
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Pela 1ª vez, Theatro Municipal abre ao público segredos dos bastidores

São Paulo — Palco dos principais acontecimentos artísticos da história brasileira, o Theatro Municipal de São Paulo ocupa um lugar mítico no imaginário nacional. Localizado no centro da capital, o teatro foi onde o maestro Heitor Villa-Lobos enfrentou vaias ao reger um concerto de chinelos, e Anita Malfatti apresentou pinturas que tirariam noites de sono de Monteiro Lobato – eventos da Semana de Arte Moderna de 1922, que mudariam os rumos da cultura brasileira.

Em seus 113 anos de existência, o Theatro Municipal de São Paulo é uma das principais instituições nacionais de produção cultural.

No entanto, o que por muito tempo foi desconhecido do público é que o sucesso de seus espetáculos depende do trabalho realizado a pouco mais de cinco quilômetros de distância da sede do teatro, na Central Técnica de Produções Artísticas Chico Giacchieri.  

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Fachada do Theatro Municipal de São Paulo

Divulgação/TMSP

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Central Técnica de Produções Artísticas Chico Giacchieri é aberta para visitação do público

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Figurino usado na ópera Carmen

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Exposição tem figurinos de 8 montagens da temporada lírica de 1951

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Exposição permite conhecer cenário usado na montagem apresentada no Theatro Municipal

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Escultura de Atlas foi usado na ópera Rigoletto

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Elemento cênicos ocupam a central técnica

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Exposição busca explicar história das óperas já apresentadas

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Figurinos expostos na central técnica

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Nomeado em homenagem ao cenotécnico que comandou a produção cenográfica do Municipal durante as décadas de 1970 e 1980, a central fica na zona leste da cidade, logo atrás do Estádio do Canindé, e é um espaço muito diferente da casa de espetáculo: em vez do lustre de bronze e ouro e das pilastras de mármore, sua estrutura é composta por tubos de luz fluorescente pendurados no teto de quatro galpões de estilo industrial.

Lá, profissionais formulam mecanismos e estruturas gigantes para conseguir transformar um palco de 21,5 metros de largura por 20,5 metros de comprimento no Egito Antigo, em uma caverna, ou na cidade de Veneza, a depender da ambientação exigida por cada espetáculo.

O local, que também abriga grande parte do acervo de cenários e figurinos da história do Theatro Municipal, está aberto para visitas gratuitas desde o final de julho.

Como os espetáculos são feitos

Para cada vez que as cortinas se abrem no Theatro Municipal, uma equipe de cenógrafos precisa definir como o veludo vermelho e as cordas serão posicionados. Se as cordas forem presas ao longo do tecido, a cortina se abrirá de baixo para cima. Se forem fixadas apenas na parte superior, o movimento será como o de uma cortina de chuveiro, deslizando horizontalmente.

Esses detalhes, quase imperceptíveis para quem assiste, podem ser determinantes para a consagração de um espetáculo. Por isso, entendê-los é um dos objetivos da visita ao centro técnico: “Queremos que o público possa ver como é o outro lado, a mecânica, a construção cenográfica, que as pessoas descubram como é o processo de produção de um espetáculo”, explica a diretora do Theatro Municipal Andrea Caruso Saturnino.

Para a diretora, que idealizou o projeto de abertura do espaço ao público, conhecer o centro ajuda as pessoas a entender o sentido de uma história. Ela menciona, por exemplo, o caso da ópera Carmen, de Georges Bizet, que esteve em cartaz no início de 2024 e agora está com seus cenários e figurinos expostos no centro. Na exposição, Carmen, a protagonista da ópera, é apresentada como “A primeira diva pop” e comparada com figuras como Anitta e Madonna.  

“A gente vai colocando todas essas perspectivas de quem é a Carmen em um arco do tempo que você contextualiza o que ela representa. Então, em vez de a gente pensar ‘eu não conecto, é uma obra elitista, é uma ópera’, eu penso, ‘o que é isso? Que história é essa?’ e conecto com o que está acontecendo hoje”, completa a diretora.  

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Visita ao Centro Técnico mostra formas de montagem cenográficas

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Movimento das cortinas do teatro depende da forma de amarração do tecido

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Andrea Caruso Saturnino, diretora do Theatro Municipal, mostra figurinos da ópera Carmen

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Acervo de figurinos do Theatro Municipal não é aberto ao público, mas alguns exemplares estão expostos no Centro Técnico

Letícia Silva

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Etiqueta marcada com “criados negros”

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Trajes usados pelos sambistas Toniquinho Batuqueiro e Seu Carlão do Peruche quando foram figurantes

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Figurino assinado pelo sambista Heitor dos Prazeres

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Acervo guarda figurinos do espetáculo de Ballet IV Centenário

Os segredos que a central técnica guarda

Além de dar sentido aos espetáculos, o acervo do centro também guarda a face menos glamourosa da história do Theatro Municipal. O coordenador do acervo de pesquisa, Rafael Domingos Oliveira da Silva, conta que durante uma pesquisa sobre os figurinos feitos em uma montagem do espetáculo de “Aida” de 1951, a equipe descobriu que roupas etiquetadas como “criados negros” tinham sido usadas por referências do samba paulista como Toniquinho Batuqueiro e Seu Carlão do Peruche.

“Nessa época, o Municipal tinha o hábito de pegar crianças que trabalhavam no centro para trabalhar como figurantes. Se você olhar a etiqueta dos figurinos dos personagens protagonistas, os nomes dos atores sempre estão registrados, já essas pessoas ficaram invisibilizadas no acervo”, Rafael descreve.

Curiosamente, a Semana de Arte Moderna de 1922 não está representada no acervo – um indicativo, segundo Rafael, de como o movimento foi recebido na época. “ A importância de 22 foi construída depois. A ausência de figurinos e cenários preservados mostra que, na época, o evento não era visto como um grande marco; o mito em torno da semana surgiu mais tarde”, finaliza. 

O prédio onde são armazenados os mais de 25 mil figurinos do acervo do Theatro não é aberto ao público devido ao trabalho delicado de conservação necessário. No entanto, alguns desses figurinos estão exibidos pelas exposições temporárias do centro técnico.

Cada um dessas exposições conta a história de um espetáculo específico, e os temas são alternados conforme a programação do Theatro. A próxima mostra será sobre “Nabucco”, de Giuseppe Verdi, em cartaz na casa de espetáculos. Para visitar o centro, é necessário fazer um agendamento prévio pelo e-mail educacao@theatromunicipal.org.br. 

Visita à Central Técnica Chico Giacchieri

Onde: Central Técnica Chico Giacchieri
Endereço: Rua Paschoal Ranieri, 75 – Canindé, região central
Horário: sessões às 10h e às 14h nas quartas, quintas (para grupos de até 50 pessoas) e sextas-feiras
Preço: grátis
Ingressos: agende por e-mail

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