segunda-feira, outubro 7, 2024
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Quando iremos votar pelo celular?

Desde que votei pela primeira vez em 1998, sempre o fiz através das urnas eletrônicas. Elas eram, naquela época, tecnologia de ponta, a mais avançada das propostas democráticas, vanguarda mundial. Quando foi que os democratas deixaram de defender a continuação da modernização eleitoral? Já passou da hora de votarmos por celular.

O primeiro modelo de urna eletrônica foi utilizado na eleição municipal de 1996 e abrangeu aproximadamente 32% do eleitorado. Para regozijo dos bolsonaristas jurássicos, possuía até uma impressora destinada ao registro do voto, que era depositado em uma urna de plástico acoplada à máquina.

O voto impresso já havia sido extinto pela Lei nº 9.504/1997. A urna que eu conheci em 1998 tinha capacidade de processamento e memória ampliadas, o que permitiu o registro da fotografia de todos os candidatos. Na eleição de 2000, 100% do eleitorado utilizou a urna eletrônica.

De lá para cá algumas inovações foram implementadas, como a saída de fones direcionada aos eleitores com deficiência visual, e o leitor biométrico da impressão digital para autenticação no terminal do mesário.

Apesar de todas as boas intenções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a verdade é que hoje, passados quase trinta anos daquela maravilhosa inovação, a urna eletrônica é um trambolho. Em três décadas não conseguimos estar à altura daquele marco inaugural e aprofundar ainda mais a democracia através da tecnologia.

É uma pena que o debate eleitoral no Brasil tenha se apequenado em torno da defesa da urna eletrônica contra o voto em papel, uma volta ao passado que só faz sentido nas cabeças paleontológicas dos bolsonaristas.

Como chegamos a tão tacanho debate? Claro que o bolsonarismo tem sua parcela de culpa na destruição do espírito democrático e na descredibilidade das urnas eletrônicas. Mas não se deve perder de vista que os democratas abdicaram da vanguarda das transformações tecnológicas democráticas.

Da forma como o medonho debate político brasileiro se encontra, parece que a única forma de ser progressista no Brasil é se posicionar contra o bolsonarismo. Se eles são contra a urna eletrônica, cabe defendê-la. É aí que o suposto progressista democrata mostra sua face conservadora. Luta-se, no máximo, pela conservação do status quo, pela manutenção das urnas e do voto. E só.

É compreensível que os progressistas tenham se apequenado diante de tal adversário político tacanho, mas o fato é que o rebaixamento das utopias ajudou a formatar nosso medíocre debate político. Ser democrata progressista mesmo é ir além do conservadorismo. E para avançarmos na democracia é preciso incorporar o celular.

Hoje em dia, o celular, nosso companheiro de todas as horas, não tem permissão para entrar na cabine de votação. Como iremos seduzir a juventude para a democracia dizendo a ela que o celular só serve para espalhar fake news e curtir besteiras no TikTok? Se deixarmos o celular fora da democracia, ele só servirá para se duvidar dela.

Pode haver fraudes com votos por celular? Claro. Mas se temos formas de coibir fraudes de cartão de crédito e compras ilegais pela internet, por que não seríamos capazes de também coibir os burladores digitais? O medo, essa artimanha bolsonarista, não pode servir de impedimento das utopias.

Como toda empreitada tem seus riscos, não precisamos começar com tudo. Em vez de elegermos o presidente pelo celular, por que não começar com os vereadores? Ou então que tal votar plebiscitos pelo celular? Poderíamos votar a pauta do aborto pelos smartphones, por que não? Ou quem sabe fazer a eleição por celular em algumas cidades médias de forma experimental.

Até quando precisaremos ir a uma zona eleitoral para votar? Não dá mais para rebaixar as utopias democráticas em troca de um conservadorismo político que, na prática, vem cedendo espaço para a demolição bolsonarista. Espero que nossa democracia esteja à altura daquela inovação de 1996 e nos reposicione na vanguarda democrática do mundo. Pena que ainda não nesta eleição de 2024. O que estamos esperando?


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