segunda-feira, outubro 7, 2024
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Quer viver 117 anos? Fique longe de pessoas tóxicas

María Branyas Morera nasceu em 1907, em uma família espanhola que morava em São Francisco (EUA). Ela recebeu o título de “pessoa mais velha do mundo” do Guinness World Records. María faleceu no dia 19 de agosto de 2024, em Olot (Espanha). A pergunta que ela mais ouviu nos seus 117 anos foi: “qual é o segredo da sua longevidade?

No dia 4 de março, quando completou 117 anos, ela contou o segredo para viver muito: tranquilidade, bom vínculo com familiares e amigos, contato com a natureza, estabilidade emocional, positividade e “afastamento de pessoas tóxicas”.

Sempre achei que seria impossível ter uma vida muito longa por um fator hereditário: minha mãe morreu aos 62, meu pai, aos 68, e um dos meus três irmãos aos 50. Fiquei mais esperançosa ao ler a entrevista do geneticista Mariano Zallis afirmando que “apenas 1% das doenças são hereditárias, o resto é influenciado pela forma que vivemos”.

Há muitos anos descobri que, para sobreviver física e psicologicamente, precisava me afastar das pessoas tóxicas ou, como prefiro chamar, dos “vampiros emocionais”: gente que suga a nossa energia, saúde e alegria de viver, e que sente prazer em adoecer e machucar os outros.

Aos 16 anos, saí de casa, em Santos, para estudar e morar em São Paulo, primeiro na casa de uma tia e, meses depois, sozinha em um quitinete no Largo do Arouche, no centro de São Paulo. Aos 20, casei e decidi morar no Rio de Janeiro.

Será que adiantou esse afastamento da minha família e, principalmente, do meu pai? Tenho certeza que não, pois, apesar do meu pai ter morrido há mais de 30 anos, continuo escutando seus gritos: “Você é uma bosta, uma merda, uma inútil, nunca vai ser ninguém na vida”.

Apesar de ter ficado muitos anos sem falar com o meu pai, até hoje continuo apavorada, com medo de ser espancada. E, apesar de tantos amigos e amores, continuo não gostando do meu nome, pois ainda tenho horror das suas ameaças: “Mirian, você vai aprender a me obedecer na marra”.

Depois da morte da minha mãe, meu pai se aproximou bastante de mim. Ele confessou que tinha muito orgulho por eu ter construído uma vida profissional tão bonita, ter feito doutorado, escrito livros, ser independente financeiramente.

Quando ele descobriu que estava com câncer no pâncreas, larguei toda a minha vida no Rio de Janeiro e cuidei do meu pai até o seu último suspiro. No enterro, uma tia disse que eu parecia um cadáver: eu estava com 42 quilos e tomava três Lexotans por dia.

Voltando aos conselhos de María. Consegui me afastar fisicamente das pessoas tóxicas que povoaram minha infância, juventude e vida adulta, mas, emocionalmente, não me distanciei dos “vampiros emocionais”: eles continuam morando dentro de mim.

Por exemplo, agora, ao escrever sobre meu pai, estou ouvindo seus gritos: “você é uma bosta, uma merda, uma inútil”. Estou sentindo o mesmo pânico de ser machucada e tenho vontade de me esconder no armário. Estou sufocada com minhas lágrimas porque sinto falta do pai, que, nos últimos anos da sua vida, se tornou o meu melhor amigo.

E, sentindo a dor dilacerante da saudade porque, antes de morrer, meu pai finalmente reconheceu que a sua única filha nunca foi uma bosta.

Será que vou viver até os 117 anos?

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