segunda-feira, outubro 7, 2024
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Após o naufrágio, Níria desperta na praia, em uma ilha deserta

Níria trabalha como stripper e foi contratada para uma despedida de solteiro em alto-mar. É a única mulher a bordo. No auge de sua performance, percebe que o barco se entregou a uma dança grotesca, ao ritmo de ondas furiosas. Um copo de uísque estoura no chão do convés e um clarão ilumina o céu prestes a desabar.

Tudo acontece muito rapidamente, mas, sob a perspectiva da stripper, o naufrágio se dá em câmera lenta. Ela vê os homens à sua volta, embriagados de arrogância, gritando feito crianças em um parque de diversões.

Há poucos minutos, todos os olhos estavam voltados para ela. Agora, é como se Níria fosse invisível. Ela se agarra a um colete salva-vidas segundos antes da embarcação se render à fúria do oceano.

Desperta na beira da praia, em uma ilha deserta. Completamente nua e abandonada à própria sorte em um ambiente inóspito e selvagem, Níria tem uma súbita crise de riso. As 17 temporadas a que assistiu do reality de sobrevivência “Largados e Pelados” não foram perda de tempo, afinal.

Abrigo, água, fogo e comida, repete para si mesma, fingindo que é uma participante de seu programa favorito. A ideia de que uma equipe de filmagem está sempre à espreita passa a motivá-la. Ela chora de emoção ao encontrar um riacho de água doce. Está a salvo da desidratação e ainda garantiu uma vinheta potente para o episódio da semana.

Níria segue à risca seu roteiro fictício, observando a flora local para saber quais plantas são comestíveis ou medicinais e quais são tóxicas. Constrói seu próprio abrigo com galhos, barro seco e folhas largas. Aprende a pescar com os recursos disponíveis e acaba se acostumando ao sabor salino da carne crua dos peixes.

Quando finalmente consegue fazer fogo com o atrito de galhos secos, uma pancada de chuva a devolve à estaca zero. Para não sucumbir ao desespero, confecciona uma boneca de cipó, que se torna sua melhor amiga e confidente.

Não sabemos quantos ciclos da Lua se passaram. A pele de Níria está ressecada, manchada pelo sol, marcada por cicatrizes. O corpo, coberto de pelos. Os cabelos, um emaranhado indivisível. Ela abandonou seu reality imaginário e vive em paz com o fato de que apenas os olhos de concha da boneca a observam.

Completamente transformada, por dentro e por fora, Níria nunca foi tão parecida com si mesma.

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