segunda-feira, outubro 7, 2024
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Não peça vinho sem álcool; vá de mocktail, vai ser melhor

As bebidas zero álcool são a novidade mais quente do mercado. Mas, se você gosta de vinho e não quer consumir alcoólicos, por enquanto, peça um mocktail, o coquetel sem destilado ou fermentado. As vinícolas já descobriram o filão do vinho desalcoolizado e novas opções não param de surgir na prateleira. Mas, na taça, elas se mostram muito abaixo do esperado.

Provei pela primeira vez um espumante brut sem álcool em 2021 e não consegui esquecê-lo. As notas de borracha queimada e a sensação de refrigerante foram tão marcantes que me afastaram da bebida até agora, quando fiz um novo round de provas.

Na última semana, montei um painel com seis vinhos desalcoolizados fáceis de achar no mercado, brasileiros e importados: dois espumantes brut; três brancos, sendo dois chardonnay e um muscadet; e um rosé. Os preços variam de R$ 80 a R$ 120.

Nenhum vinho se mostrou exatamente agradável. Dois, verdade seja dita, eram péssimos, chegaram a dar enjoo. Os outros até passaram sem ferir (tanto), mas não valem o preço. (Na verdade, não consigo ver cenário em que gostasse de beber esses vinhos).

Uma curiosidade é que suas notas olfativas não eram exatamente o que se espera das uvas e dos estilos. Talvez o muscadet tenha sido o mais fiel, por trazer um floral resinado, mas, ainda assim, mais resinado que floral. Na boca, todos passaram meio liso, com a sensação de peso extra, como uma Acqua Panna.

Minha suspeita é que esses vinhos perdem o álcool, no processo de aquecimento a vácuo, e com ele vai também a acidez, a alma do vinho, o que faz dele uma bebida cheia de graça e o que nos faz salivar.

Com esse pequeno painel —que não incluiu tintos porque não os encontrei—, também notei que há uma sensação de ingerir algo “mais químico”, que é justamente o contrário do que os bebedores de vinho mais apaixonados buscam hoje, com a ascensão de naturais, orgânicos e biodinâmicos.

Fiquei pensando em quem quer perder peso por motivos estéticos e começa a comprar tudo com adoçante, em vez de buscar alternativas na comida de verdade, como diria Rita Lobo; uma gelatina diet em vez de uma maçã, por exemplo.

Por outro lado, também pondero que pode ser apenas uma questão de tempo para que esses vinhos fiquem toleráveis ou, quem sabe, até interessantes, como o mercado de cerveja nos demonstra: hoje, as opções destas bebidas são incrivelmente superiores às de dez anos atrás.

Vamos fazer um combinado? A gente não desiste e volta em dois anos para falar de vinho zero álcool, que tal?

Por enquanto, se você quer beber menos, está preocupado com a saúde, quer intercalar alcoólicos e não alcoólicos, pode ser mais prazeroso tomar esse mocktail de que falei no começo. A coquetelaria, se vai além da dupla xarope e tônica, abusando das nossas plantas nativas (recomendo o livro de Néli Pereira, “Da Botica ao Boteco”), pode despertar o paladar de um jeito mais criativo e prazeroso.

Já o vinho sem álcool, se ingerido sem moderação, pode ser nauseante.


Vai uma taça? Para contrastar com os bruts e brancos acima, tintos (com álcool) como o espanhol Copa Real Tempranillo 2018 (R$ 97, Mistral), de estilo clássico, com fruta exuberante e notas mais ricas de baunilha de sua passagem por barrica; o português Herdade do Rocim Mariana (R$ 120, World Wine), todo redondo e aveludado; e o italiano Rubicone Villa Rossi (R$ 80, Berkmann), cheio de fruta vermelha fresca e ácida, são ótimas pedidas.


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