segunda-feira, outubro 7, 2024
Noticias

O que podemos aprender com a argentina Thelma Fardin sobre vítimas de violência sexual

Em junho deste ano, Juan Darthés, ator argentino-brasileiro, foi condenado a seis anos de prisão em regime semiaberto por abuso sexual. Em 2009, quando tinha 45 anos, estuprou a atriz argentina Thelma Fardin, que tinha 16.

A condenação, em segunda instância, foi precedida pela absolvição de Darthés pela Justiça de São Paulo em 2022, depois de quatro anos de enfrentamento jurídico e exposição pública. E há quem se pergunte por que vítimas de violência sexual não denunciam seus agressores.

Por nove anos, Thelma sofreu em silêncio o trauma do abuso e assistiu à celebração pública de seu agressor.

Eram recorrentes os pensamentos que assombram tantas mulheres: se o denunciasse, seria a palavra dela contra a dele; não tinha provas; perguntariam se não o ato foi mesmo consentido, o que ela estava vestindo, o que fez para provocá-lo; um homem famoso e poderoso poderia mobilizar todos os recursos para destruí-la; em um inquérito policial, quantas vezes teria que responder às mesmas perguntas em tom hostil, ser revitimizada.

Somente em 2018, na onda do MeToo que tomou a Argentina, Thelma se sentiu segura para denunciar o agressor. Três mulheres já tinham registrado denúncias contra ele. Darthés fugiu para o Brasil.

Thelma recebeu imenso apoio. A hashtag #miracomonosponemos (veja como ficamos) ressignificou a frase do agressor antes de atacá-la, quando pôs a mão dela no pênis ereto dele e disse: “Veja como eu fico”. Argentinas manifestaram nas redes, assim, como as mulheres ficam quando são abusadas: juntas, têm a força necessária aos enfrentamentos.

Em fevereiro de 2023, fui procurada por Thelma: “Denunciei por abuso sexual um ator que fugiu para o Brasil e estamos na reta final do julgamento, esperando o veredicto. Meu caso na Argentina ganhou grande relevância. Mas não é assim no Brasil, e seria importante ter redes feministas e de direitos humanos me apoiando”.

Entrei em contato com diferentes grupos e organizamos um encontro de aproximadamente 20 mulheres. Ouvimos o relato de Thelma, manifestamos nossa solidariedade, publicamos fotografias.

Pautar o debate público com conteúdos nas redes e boa cobertura da imprensa é fundamental para a proteção das vítimas. E Thelma estava espantada com a falta de preparo da imprensa brasileira.

Eu e Luka Franca, do Movimento Negro Unificado, saímos com a tarefa de compilar boas práticas nesse sentido. Formulamos juntas um pequeno texto para o Twitter: “O feminicídio e a violência contra meninas e mulheres —principalmente negras— têm aumentado. O modo como comunicamos pode ajudar na proteção das vítimas e para que novos casos não aconteçam, ou pode reforçar os estereótipos que produzem morte”.

Listo abaixo as referências. Elas servem para jornalistas, mas também para quem está reproduzindo informações sobre violências nas redes sociais e em grupos de WhatsApp.

Evite passar vergonha e, principalmente, revitimizar mulheres.

Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com três meses de assinatura digital grátis


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

source

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

WP Twitter Auto Publish Powered By : XYZScripts.com