domingo, outubro 6, 2024
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Embaixo do viaduto Paulo 6º, uma prova de resistência

O centro de reciclagem Coopamare (Cooperativa de Catadores Autônomos de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis), na rua Galeno de Almeida, em Pinheiros, é um lugar de grande impacto social que contribui para a existência de uma cidade mais limpa e consciente.

Trata-se de um núcleo de separação de materiais sólidos recicláveis que seleciona 85 toneladas de resíduos por mês e fatura R$ 100 mil. Os materiais são separados e comprimidos em fardos de até 250 quilos para serem vendidos para atravessadores, que os distribuem para a indústria.

O centro fica embaixo do viaduto Paulo 6º e nele se acumulam centenas de sacos com diversos tipos de resíduos. Os mais abundantes e procurados são o papelão e o ferro. Tudo é organizado, há veículos mecânicos para transporte de carga e não há qualquer cheiro de lixo. Trabalham ali 23 pessoas com renda de um a dois salários mínimos por mês.

A área foi cedida para a cooperativa em 1989, nos tempos do governo de Luiza Erundina, dentro de um projeto de auxílio a moradores de rua realizado pela OAF (Organização de Auxílio Fraterno). A comunidade envolvida com a cooperativa inclui também 35 catadores avulsos, que passam por lá diariamente.

A Coopamare é um lugar de resistência e combate à desigualdade. É uma preciosa fonte de renda para uma população carente e abandonada pelo Estado. A entidade desenvolve projetos inclusivos, dá cursos de formação aos cooperados e se orienta pelo objetivo de valorizar a profissão de catador.

Frequentemente a cooperativa é fustigada pela Prefeitura para deixar o local onde está há 35 anos. Ao longo de sua história sofreu várias tentativas de despejo. A penúltima delas foi em junho de 2023, quando foi emitido um “auto de infração” da Subprefeitura com a alegação de que a área estava sendo ocupada irregularmente.

A situação jurídica do terreno da Coopamare é estável e o espaço está cedido por tempo indeterminado. Mas a Prefeitura alega que a cessão está defasada. As negociações com a administração municipal no ano passado foram mediadas pelo deputado estadual Eduardo Suplicy e pela vereadora Luna Zarattini. Além de se manter no local, a cooperativa reivindica um novo terreno para ampliar suas atividades. O prefeito Ricardo Nunes prometeu regularizar a situação de forma definitiva, mas nada foi feito.

“A Prefeitura sempre mexe com a gente. Neste ano mesmo eles queriam que a gente saísse e falaram que iriam arrumar um novo espaço, mas parou nisso”, diz a administradora da Coopamare, Carla Moreira de Souza. Há décadas, a cooperativa se mantém no mesmo endereço, o que não impede que moradores e empresas do bairro reclamem da movimentação pelas ruas circunvizinhas de catadoras e catadores de resíduos.

A 100 metros da Coopamare, por exemplo, foi erguido um novo empreendimento imobiliário. Os membros da cooperativa perceberam que a construção do prédio aumentou, mais uma vez, a pressão sobre a entidade. Vereadores visitaram a cooperativa para tentar convencer os trabalhadores a deixarem o local. Especula-se que a Prefeitura tenha um projeto de instalação de uma feira gastronômica debaixo do viaduto.

O sucessor de Erundina na prefeitura, Paulo Maluf, tentou de todas as formas acabar com o centro de reciclagem, mas não conseguiu. Quem saiu em defesa das catadoras e catadores foi o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns. Ele disse na ocasião que a Coopamare era “coisa dele” e forçou Maluf a desistir da ideia. Em 2005, o prefeito José Serra também tentou tirar a cooperativa do local.

O trabalho de inclusão social de pessoas em situação de rua feito pela entidade é, hoje, reconhecido mundialmente e mobiliza ativistas e movimentos sociais, mas ela não recebe doações de ONGs ou de empresas.

Na Coopamare não existe a palavra lixo. Tudo é resíduo destinado à reciclagem. A cooperativa presta um serviço indispensável para a cidade e virou parte da paisagem de Pinheiros. “Nosso trabalho é muito importante, são 23 famílias que se sustentam, e, além disso, tem o benefício para o meio ambiente”, diz Carla.


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