segunda-feira, outubro 7, 2024
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A sobrevivência dos chapéus

Existem pelo menos quatro lojas de chapéus em funcionamento no centro da São Paulo. Embora o acessório tenha deixado de fazer parte da indumentária da maioria das pessoas desde os anos 1960, ele ainda tem mercado e resiste firme em algumas cabeças. É um produto cheio de simbolismo. A situação é muito diferente da que se via na primeira metade do século passado, quando era uma marca obrigatória de distinção e elegância, mas está longe de ser desoladora.

Diversos grupos sociais continuam usando chapéu como um traço de identidade. Os sertanejos, por exemplo, seguem vestindo seus modelos de cowboy, cujas vendas disparam na temporada de rodeios. Os chamados góticos garantem mercado para produtos tão antiquados como as cartolas. Judeus ortodoxos não dispensam o acessório sempre da cor preta. Os mais velhos preferem os modelos com aba grande e os jovens, com aba menor. Nas festas, os chapéus ainda são um ornamento para muitos homens e mulheres. E continuam servindo, obviamente, para proteger a cabeça do sol ou para esquentá-la no frio.

Outros usuários de chapéus são os frequentadores de terreiros de umbanda e os maçons. Na umbanda alguns usam chapéus de cowboy. Porém, os mais comuns são os modelos brancos com fita vermelha para se conectar com a entidade Zé Pelintra, patrono dos bares e das festas, frequentemente associado ao orixá Exu, do candomblé. Quando um umbandista incorpora um espírito aristocrático costuma vestir algum tipo de cartola.

Algumas lojas maçônicas adotam o quipá ou solidéu, como os judeus, mas em geral os modelos mais usados são o carapuça, o cata ovo, o saqueiro, o aba 9 e a meia cartola, dependendo do rito. O uso do acessório na maçonaria é um símbolo de proteção utilizado durante toda a reunião do grupo e só retirado nos momentos de reza em sinal de respeito. Já os judeus os mantêm na cabeça obrigatoriamente durante as orações e cerimônias religiosas, demonstrando seu temor a Deus.

A loja especializada mais antiga de São Paulo, A Esquina Chapelaria, que vai completar 90 anos funcionando no mesmo endereço, fica na rua Capitão Salomão e é um comércio estável com um público fiel. “A gente trabalha com chapéus reais, como eram antigamente”, diz o proprietário, Luciano Kirszenworcel. “É um negócio que nunca vai morrer, tem sempre alguma necessidade de uso e, além disso, também tem o modismo.” Os preços dos chapéus variam de R$ 150,00, normalmente modelos feitos de fibra de celulose, algodão ou juta, até R$ 1.900,00, valor dos feitos com pelo de lebre.

Na região do Largo do Paissandu, entre as ruas do Seminário e a Capitão Salomão, além de A Esquina Chapelaria, há outras duas lojas que também vendem o produto com um amplo leque de opções: a Chapelaria Paissandu e a Ópera, que existe há 70 anos. Na rua 25 de Março está a loja 25, que trabalha com produtos chineses, mais acessíveis.

Existem atualmente quatro fabricantes do produto no Brasil. A Cury, que comprou a marca Ramenzoni e tem sede em Botucatu (SP), a Pralana, antiga chapéus Prada, e a San Doná Sibuque, ambas em Limeira (SP), e a Marcatto, de Jaraguá do Sul (SC). A Cury e a Pralana são as maiores. A Pralana fornece, por exemplo, o modelo Panamá, que apesar do nome, é fabricado à mão no Equador. Sua matéria-prima é a palha toquilla, com proteção natural contra os raios UVA e UVB. Outro modelo clássico é o Indiana Jones, usado pelo personagem de Harrison Ford e fornecido pela Cury.

Em alguns casos, usa-se chapéu por tradição e obrigação, como os religiosos, mas também para impor um estilo mais pessoal e por necessidade. “Muitos vestem chapéu para compor um ‘look’, caso dos artistas e do pessoal da moda”, diz Kirszenworcel. “Mas o acessório também é necessário para pessoas que passam por tratamentos de quimioterapia ou para quem fez implante capilar.” O fato é que há diversos motivos para se adornar com um belo chapéu. Se já não é mais um item obrigatório da vestimenta, ele continua sendo uma peça elegante e com várias utilidades.


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