domingo, outubro 6, 2024
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Com BC autônomo, custo do controle da inflação é menor

Com a decisão de elevar seus juros para 10,75% ao ano, o Banco Central deu prosseguimento à guinada da política monetária que teve início há quatro meses. Não se sabe ainda quais serão seus próximos passos nesse processo, sem dúvida doloroso para a economia, mas ao menos a instituição se fortaleceu no período.

Temeu-se pelo pior em maio, quando houve um racha perigoso no Comitê de Política Monetária —os quatro diretores indicados pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se opuseram à decisão majoritária de reduzir o ritmo de cortes da taxa Selic devido ao risco de alta da inflação.

Vislumbrou-se, ali, o temor de que um Copom de maioria indicada pela administração petista —como será o caso a partir de 2025— viesse a ser mais subserviente às conveniências políticas imediatistas e às convicções econômicas arcaicas de Lula.

De lá para cá, todo o colegiado tratou de dar mostras de compromisso cristalino com a meta de 3% ao ano fixada para o IPCA. A decisão de quarta-feira (18) parece um cala-boca direcionado aos que apostaram num BC “político” e leniente com a inflação.

O ciclo de queda da Selic foi sustado e, agora, começa um novo ciclo de alta, de duração e intensidade ainda difíceis de projetar a partir das indicações oficiais. O cenário atual, infelizmente, justifica a providência amarga.

A atividade econômica está em crescimento acima do esperado com impulso da expansão desmesurada dos gastos do governo Lula, o que não é sustentável. Prova disso é que as projeções para a inflação até 2026 estão acima da meta.

A única boa notícia para o BC foi a decisão de seu congênere americano, o Fed, de reduzir seus juros em 0,5 ponto percentual, para o intervalo entre 4,75% e 5%. Com isso, cai a atratividade das aplicações em dólar, cujas cotações perdem impulso de alta.

O contraste entre as medidas tomadas no mesmo dia nos Estados Unidos e aqui, ambas com sólido amparo técnico, evidencia o enorme avanço institucional propiciado pela autonomia da autoridade monetária brasileira —cuja medida corajosa deixa para trás as pressões e diatribes do presidente da República.

Lula insistiu tolamente em ataques bravateiros aos juros e à autonomia, como se fosse capaz de baixar as taxas à base de voluntarismo. Tudo o que conseguiu foi semear desconfiança, alimentar a escalada do dólar e dificultar o combate à inflação.

Viu-se forçado a recuar, sob pena de criar uma crise econômica antes de chegar à metade de seu terceiro mandato. Com a transição de comando no BC bem encaminhada, prevaleceu o entendimento de que uma gestão imune a ingerências políticas é capaz de zelar pela estabilidade da moeda a um custo mais baixo.

Resta ao governo entender que sua melhor contribuição para a queda dos juros é indicar, com atos concretos, seu compromisso com o ajuste do Orçamento.

editoriais@grupofolha.com.br

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