segunda-feira, outubro 7, 2024
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Datafolha: Marçal mostra resiliência entre evangélicos apesar da antipatia de pastores

A nova pesquisa Datafolha para a eleição paulistana mostra alguma resiliência de Pablo Marçal (PRTB) num eleitorado que ele tanto preza: evangélicos como ele.

Nenhum candidato saiu muito do lugar nesse nicho em comparação com a semana passada, o que por si só não é de todo ruim para Marçal. Sob chumbo da cúpula de pastores, o ex-coach oscilou de 31% para 26%.

Apesar do apoio maciço dessa mesma turma, Ricardo Nunes tampouco deu um grande salto entre fiéis. Tinha 29% e agora chega aos 32%. Guilherme Boulos (PSOL), o menos simpático do trio para as igrejas, engordou numericamente um ponto percentual e está com 15%.

Todos, portanto, oscilaram dentro da margem de erro, de seis pontos percentuais para esse recorte religioso específico. Crentes são 22% da amostra, abaixo dos 41% de católicos e à frente dos 18% que dizem não ter religião.

“Eu sou o mais resistente deles”, disse Marçal à influenciadora de direita Antonia Fontenelle. “Emocionalmente, fisicamente. Sou o mais resistente espiritualmente. Eu aguento pancada. Até depois do último desistir, ainda estou de pé.”

Três dias depois, ele saiu deitado do debate na TV Cultura, numa ambulância, após levar uma cadeirada de Datena (PSDB). Choveram análises apontando um a.C/d.C. em sua campanha, um “antes e depois da Cadeira”.

É razoável presumir que o ataque o prejudicou. A ele restou a pose de macho viril arranhada e a pecha de ter colhido o que plantou —e aqui não se trata de justificar agressão física, apenas constatar impressão popular sobre o episódio. Marçal passou a fazer chacota dele próprio, compartilhando joguinhos virtuais em que cadeiras levam a melhor sobre ele.

Mas a pressão contra sua candidatura já tinha aumentado uma semana antes, ao menos nos segmentos evangélico e bolsonarista, que com frequência formam uma coisa só. O ex-coach usou o 7 de Setembro para comprar briga com duas figuras na proa do conservadorismo nacional, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o pastor Silas Malafaia. Agiu como se pudesse dispensar lideranças e arrebatar a base.

Talvez tenha metido os pés pelas mãos. Virou alvo de artilharia quase diária de Malafaia, um farol para pastores de pequeno e médio porte, e que sabe falar grosso como ele. Também pode ter se precipitado ao sugerir que o bolsonarismo pode prescindir de Bolsonaro e o ungir como novo capitão.

É digno de nota, contudo, que Marçal continue em alta conta com fatia evangélica expressiva a despeito do mundaréu de líderes depondo contra ele.

Dá para entender por que o ex-coach é indigesto para tantos deles: diz ter uma igreja do coração, a goiana Videira, mas hoje não está ancorado em nenhuma denominação e já afirmou que nunca mais vai “dar o dízimo, nem a pau”. Prefere se declarar cristão a evangélico, embora não rechace o rótulo. Gosta de pregar que cristianismo não é religião, “é lifestyle”. É como se dissesse: vá com Deus, meu filho, e não precisa de ninguém mediando seu caminho até Ele, não, viu?

Declarações passadas municiaram detratores, como o pouco caso que faz de um conhecido rei bíblico. “Salomão escreveu três livros, eu escrevi 45. Eu tenho só uma mulher. Salomão tinha mil e não encontrou a paixão da vida dele. […] Salomão era um neném. Precisamos parar de venerar Salomão e um monte de gente e entender que também nós somos imagem e semelhança do Criador.”

Ao mesmo tempo, o único evangélico no páreo paulistano ensopa seu discurso com referências bíblicas. No debate mais recente, falou que caminharia pelo “vale da sombra da morte” sem nada temer, “porque o Senhor Deus está conosco aqui na cidade”. Sobre a rejeição mais alta entre candidatos, “ninguém é amado sem ser rejeitado primeiro”. Se você pensou em Jesus, pensou correto.

A taxa de eleitores que dizem não votar de jeito nenhum em Marçal, aliás, é bem menor entre evangélicos (28%) do que na média geral (47%).

Ranieri Costa, teólogo e autor de “Teologia Coaching: A Ilusória Ideologia de que Nascemos Só para Vencer”, pinçou outras falas de uma live que Marçal fez após o confronto com a agressão de Datena. Disse que foi “uma oferta ali”, tal qual Isaque, o filho que Abraão oferece a Deus em sacrifício, e que indenizaria “quatro vezes mais” se achassem algum malfeito contra alguém —aqui a alusão é a Zaqueu, cobrador de impostos que prometeu devolver o quádruplo do que tivesse extorquido de alguém.

Para o crente, diz Costa, “o conhecimento bíblico impressiona”. Lembrando que Bolsonaro não ia muito além de João 8:32: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Quando maneja as Escrituras sem explicitar a fonte, Marçal dá uma piscadela ao eleitor fiel. “O evangélico gosta disso, como se ele estivesse tentando evangelizar as pessoas com um discurso que ele diz não ser religioso, mas que o usa.”

Se não se sai de todo mal nesse quinhão religioso, Marçal por outro lado tem dez pontos percentuais a menos entre católicos, 16%. Bolsonaro chegou a compartilhar no WhatsApp vídeo em que o neopolítico diz que a Igreja Católica matou muita gente, e que a igreja evangélica não mata “com morte física, mata com morte espiritual”. A guerra religiosa certamente terá novas batalhas pela frente.

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