domingo, outubro 6, 2024
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Debate testa novo momento da campanha e aposta final de Marçal

A advertência colegial feita na abertura do debate foi um sinal de que o programa do SBT se daria num ambiente diferente dos encontros anteriores. Refletindo um cansaço nítido do eleitorado, o mediador alertou que não eram permitidos apelidos e xingamentos. Ameaçou até encerrar a transmissão em caso de desrespeito.

A redução do tom do confronto é uma novidade deste momento de campanha. Quase todos os candidatos se mostram suficientemente preocupados em administrar seus índices de rejeição ou, ao menos, moldar a imagem final que pretendem passar para o eleitor.

Até o aparentemente incorrigível Pablo Marçal (PRTB) se viu sem saída. A rejeição em disparada forçou uma tentativa tardia de correção de rota em sua campanha.

Depois de protagonizar vexames históricos na TV, o candidato tentou uma guinada radical no debate do SBT: pediu perdão aos eleitores, disse que a disputa começa agora e afirmou que terá “postura de governante”.

A transformação do ex-coach, que se orgulhava de se comportar “como idiota” para chamar atenção, é reflexo de um exagero que deixou sua campanha com a água no pescoço. A taxa de rejeição a Marçal chegou a 47%, índice considerado proibitivo para qualquer candidato que pense, de fato, em ganhar uma eleição.

Marçal tem duas semanas para fazer uma reformulação convincente de seu personagem. Há uma grande dificuldade e uma armadilha em seu caminho.

A dificuldade é seu repertório limitado de alternativas, algo que já apareceu no debate desta sexta-feira (20). O ex-coach voltou a citar propostas fantásticas, como a construção de um teleférico na periferia, disse conhecer saídas abstratas para problemas como a cracolândia (“Eu senti a energia da solução”) e abusou de um tradicional discurso sobre prosperidade, tão sedutor quanto vago.

A armadilha está na calibragem desse esforço de suavização. Marçal dificilmente perderá seu eleitor fiel, a quem tenta convencer de que a adoção do personagem “paz e amor” é só um movimento estratégico. Qualquer exagero, no entanto, pode fazer com que ele soe artificial ou fique longe demais dos holofotes.

Outros candidatos conseguem explorar o novo terreno de maneira mais confortável. Ricardo Nunes (MDB), em particular, encontrou uma brecha na redução de tom do confronto. O prefeito tentou usar o debate do SBT como extensão do horário eleitoral.

Seguindo a estratégia traçada por sua campanha, Nunes limitou a duração dos embates diretos. Explorou seu tempo para listar obras da prefeitura e se defender de críticas em tempo real. É um comportamento que já se mostrou incapaz de empolgar o eleitor, mas que deu resultado suficiente para dar impulso ao crescimento de sua candidatura até aqui.

Cientes desses efeitos, os rivais de Nunes tentaram desmontar o marketing do prefeito. Guilherme Boulos (PSOL) argumentou que a propaganda é mais cor-de-rosa do que a realidade. Tabata Amaral (PSB) seguiu o mesmo caminho e destacou o fato de o prefeito ter ampliado a inauguração de obras no ano eleitoral.

A candidata do PSB talvez tenha sido a única a ganhar mais no confronto. Além de direcionar críticas à gestão Nunes, buscou tirar de Marçal sua máscara light ao relembrar acusações contra o ex-coach. O caminho é útil porque Tabata precisa se manter em evidência para evitar uma fuga de votos na reta final.

À medida que o debate avançava, nem os candidatos pareciam aguentar a recitação de um catálogo de propostas, condensadas em poucos minutos. O bloco final refletiu um cansaço que favoreceu dobradinhas e levou à repetição.

A maior parte dos candidatos fez jogadas seguras para evitar embates perigosos. Mesmo quando Nunes e Boulos se enfrentaram, os dois preferiram temas conhecidos dessa disputa, como a privatização dos cemitérios da capital.

Marçal só escapou do roteiro nos últimos minutos do programa. Depois de ter abandonado os apelidos, ele se referiu a Nunes como “tchutchuca do PCC”. Deu de presente um direito de resposta e levou do prefeito uma reprimenda final.

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