domingo, outubro 6, 2024
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O futuro da agenda ESG do futuro

Depois de quase duas décadas de conscientização, a ESG (melhores práticas ambientais, sociais e de governança, na definição em português) está completando seu capítulo inicial, aquele em que empresas e indivíduos transbordaram entusiasmo e otimismo com o futuro.

À medida que esse futuro vislumbrado chega, porém, a perspectiva muda. Agora começa uma etapa de amadurecimento, que exige outra consideração importante: o que pensávamos sobre esse futuro de agora —ou parte dele— deve ser avaliado, criticado e revisto. Uma miríade de compromissos foi assumida, mas poucos deles foram cumpridos. Pode isso ameaçar a agenda ESG? Também não.

Tomemos como exemplo o primeiro e mais fundamental dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), promovidos pelas Nações Unidas e lançados em 2015 para serem alcançados até 2030: erradicação da pobreza. A manter-se a tendência, apenas um terço dos países terá reduzido pela metade a pobreza, e 575 milhões de pessoas ainda viverão abaixo da linha da pobreza extrema.

O mesmo acontece com o 13º objetivo: combate às mudanças climáticas e seus impactos. Até 2030, precisamos reduzir as emissões absolutas em 43% em relação a 2010 para evitar um cenário catastrófico. Ao invés de redução, as projeções mostram que no mesmo ano teremos um aumento de 10,6%. No âmbito do mundo das organizações privadas, entre as 2.000 maiores empresas do planeta, 37% assumiram compromisso de neutralidade climática, das quais apenas 18% estão na rota para cumpri-lo.

Então o que fica para o futuro da agenda do futuro? Frente às dificuldades enfrentadas, há empresas mudando de estratégia, sinalizando uma reversão na sua aderência à agenda ESG, sob a justificativa de que ela é mais onerosa e complicada que o previsto. Mas há opção? Essa mecânica de ação e reação instantânea a indicadores e custos de curto prazo é tão equivocada quanto a adesão a compromissos voluntários de ESG sem a adequada reflexão.

O mercado já percebe que negócios social e ambientalmente responsáveis são um requisito, não mais um diferencial. Engana-se a organização que acha que pode abandonar essa agenda com vistas a atender o interesse imediato de rentabilidade. Na hora de captar recursos, habilitar-se para ser fornecedor, emitir uma dívida no mercado e planejar a segurança energética, as empresas são requeridas por práticas ESG cada vez mais consistentes.

Por outro lado, sabemos que os mercados são imperfeitos e a informação não é compartilhada tempestivamente entre todos. Aquela organização que atrasar sua entrada em uma ou mais agendas ESG pode ter um ganho de custo no curto prazo e ser mais atrativa ao investimento imediato, o que a leva a postergar a ação tanto quanto possível. Por isso, é importante o papel da regulação.

Trazer clareza do que a sociedade espera em termos de ESG das organizações privadas é fundamental para nivelar o campo de jogo, o dispêndio e a expectativa de resultados socioambientais dessas companhias. Se queremos que o futuro do futuro seja diferente, temos que levar em conta que a agenda ESG é o caminho e que a regulação é o veículo. Serão necessários investimentos relevantes, mas o risco de não fazer é muito maior.

TENDÊNCIAS / DEBATES

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