domingo, outubro 6, 2024
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Salvador e São Paulo são as capitais com maior desequilíbrio racial; entenda o índice que mede a desigualdade

O Ifer (Índice Folha de Equilíbrio Racial) representa uma forma intuitiva de medir o viés social e racial da sociedade brasileira e, com isso, conseguimos monitorar e avaliar a evolução do desequilíbrio racial no país. Se estivermos realizando intervenções que equalizem as oportunidades entre brancos e negros, seria de esperar que o viés convirja para zero ao longo do tempo.

Ele foi desenvolvido no âmbito do Neri (Núcleo de Estudos Raciais) do Insper, pelo Sergio Firpo, pelo Alysson Portella e por mim, em parceria com a Folha de S.Paulo, e tem como objetivo medir o desequilíbrio racial entre os 10% mais ricos, na educação superior e longevidade.

A criação do índice visa contribuir para promover um debate mais profundo sobre a equidade racial no Brasil, destacando as barreiras que negros enfrentam em diversas regiões do país. Nesta nova edição, juntamente com os pesquisadores Daniel Duque e Fillipi Nascimento, empregamos a metodologia do Ifer para avaliar o desequilíbrio racial nas capitais brasileiras.

O que a nova edição do Ifer revela?

A pesquisa conduzida por Neri abrangeu o período de 2012 a 2022, revelando uma modesta melhora no Ifer geral do país, o que indica algum progresso em termos de equidade racial. No entanto, mantendo-se o ritmo atual, serão necessários 70 anos para alcançarmos um equilíbrio racial nas dimensões analisadas em nível nacional. Os dados apontam avanços no componente da educação, da estabilidade, de renda e no de retrocesso na longevidade.

Há uma grande heterogeneidade entre as capitais: 18 registraram melhora em seus índices no período analisado, enquanto 9 apresentaram piora.

Por que é importante medir desigualdades?

Medir desigualdades é importante para garantir que as oportunidades oferecidas pela sociedade sejam equitativas e não influenciadas por fatores que não estão no controle do indivíduo.

Mesmo que haja variações nos resultados individuais por conta de diferentes escolhas e níveis de esforço, uma sociedade justa não deve permitir que o local de nascimento, o sobrenome, o gênero, a sexualidade, a cor da pele ou qualquer outro marcador social sejam determinantes para o sucesso ou o fracasso de alguém.

A partir dessas medições, podemos identificar desníveis significativos que não se explicam por mérito ou esforço, mas sim por barreiras estruturais e históricas que afetam de maneira desproporcional certos grupos.

No que diz respeito à agenda racial, a construção de estatísticas pode contribuir para a criação de políticas públicas mais eficazes, ao mesmo tempo em que serve para monitorar o impacto das intervenções já existentes.

Além disso, esses dados ajudam a desconstruir mitos como o da meritocracia plena e conscientizam a sociedade sobre a persistência da discriminação sistêmica. Sem esse monitoramento, torna-se difícil promover mudanças concretas ou avaliar o progresso em direção à equidade.

O objetivo final é que os subgrupos populacionais tenham uma representação proporcional em todas as esferas da sociedade, refletindo as oportunidades iguais que deveriam ter desde o início.

Salvador foi a capital com o maior retrocesso na equidade racial, ocupando a posição de pior capital do país em 2022. São Paulo, que liderava o ranking em 2012, registrou uma pequena melhora e passou para a segunda posição. Apenas Porto Alegre e Porto Velho apresentaram queda no componente de Educação.

Como acelerar o ritmo do progresso da equidade racial?

Será necessária uma combinação de políticas que crie um ambiente de maior mobilidade social no país de tal forma que os resultados atingidos pelos indivíduos não seja demasiadamente influenciado pela loteria do nascimento, mas um reflexo de suas escolhas e esforços.

Nesse contexto, apesar de a educação ter seus limites no combate às desigualdades, ela tem uma função importante. Se quisermos eliminar as barreiras que impedem tantos de alcançar seu pleno potencial, precisamos garantir que as escolas em áreas periféricas tenham os mesmos recursos, a mesma qualidade, as mesmas oportunidades que aquelas em regiões mais ricas.

E isso significa, também, incluir a educação antirracista nos currículos, para que as próximas gerações cresçam com a consciência e a sensibilidade de que a equidade é algo que todos nós temos de construir juntos.

Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho tem um relevante papel. Precisamos criar verdadeiras oportunidades de ascensão para aqueles que foram marginalizados por tanto tempo. E não se trata apenas de ações afirmativas. Trata-se de mudar a cultura. Trata-se de combater o racismo institucional e promover a diversidade em todos os níveis, especialmente nas posições de liderança.

Porque quando as pessoas veem a representatividade no topo, quando veem exemplos de sucesso, isso cria um ciclo positivo de mudança.

Outro passo importante é reformar o sistema tributário para promover uma redistribuição mais justa da riqueza. A adoção de um modelo progressivo, no qual aqueles com maiores rendas e patrimônios pagam uma proporção maior de impostos, pode reduzir as disparidades de renda e financiar políticas públicas essenciais como educação, saúde e habitação para as populações mais vulneráveis.

Além disso, a revisão de isenções e benefícios fiscais que favorecem desproporcionalmente os mais ricos pode gerar mais recursos para investimentos sociais. A tributação sobre grandes fortunas e heranças também pode contribuir para reduzir as desigualdades de riqueza acumulada ao longo das gerações passadas.

O texto é uma homenagem à música “Desequilíbrio”, interpretada pela Banda Eddie.


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