domingo, outubro 6, 2024
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Cracolândia deixa esquecimento e ganha protagonismo eleitoral com propostas repetidas

A eleição municipal de 2012 foi a primeira após o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) passar a exigir a apresentação de planos de governo dos candidatos. Naquele pleito, a cracolândia passou ao largo das promessas documentadas pelos principais postulantes à Prefeitura de São Paulo, mas ganhou protagonismo nas propostas apresentadas em 2024.

Em uma análise dos planos dos principais candidatos de cada eleição usando a plataforma de inteligência artificial Notebook LM, do Google, é possível ver que a primeira menção direta à região do centro de São Paulo marcada pelo uso de drogas a céu aberto ocorreu somente no pleito de 2020, nos documentos protocolados por Guilherme Boulos (PSOL) e Márcio França (PSB).

Enquanto Boulos criticava o então prefeito e candidato à reeleição Bruno Covas (PSDB) e a política de remoção de usuários em prática desde a gestão João Doria (PSDB), França propôs ações de educação e conscientização para a reinserção social dos dependentes químicos, além de intensificar o combate ao tráfico na região, mesma proposta que o psolista faz quatro anos mais tarde.

Apesar de 2020 ser o primeiro ano em que o termo cracolândia é citado de forma direta, é possível observar que propostas relacionadas às drogas já se repetiam entre os candidatos nas eleições anteriores.

A moradia social para dependentes químicos foi tratada por Marta Suplicy (à época no PMDB) em 2016, por França e Boulos em 2020 e novamente pelo psolista, por José Luiz Datena (PSDB) e por Ricardo Nunes (MDB) neste ano.

Fernando Haddad, em 2016, falava em inserir essas pessoas no mercado de trabalho, assim como Boulos em suas duas campanhas, França e Celso Russomanno (Republicanos) em 2020, e Nunes em 2024.

O tamanho dos planos também aumentou, de uma média de apenas 11 páginas em 2012 para as 68 de 2024. Em 2012, os candidatos utilizaram, em média, 2.965 palavras para transmitir suas propostas. Doze anos depois, são 12.621.

Entre os planos analisados, o de Pablo Marçal (PRTB) em 2024 é o mais extenso, considerando-se o número de páginas. O candidato, porém, não apresentou seu documento no modelo mais tradicional, como se fosse um livro, mas sim em slides (100), o que impacta a comparação. Depois de Marçal, o maior plano da série em São Paulo é o de Tabata Amaral (PSB), também em 2024.

O menor já apresentado é o de Russomanno em 2012, com 6 páginas. Em 2016, por outro lado, o deputado enviou o plano com mais palavras entre os avaliados, com 25.470 ao todo. A lanterna no quesito fica com Gabriel Chalita (à época no PMDB), em 2012, com apenas 1.981 palavras.

Outras repetições

Na educação, zerar a fila de creches era um objetivo de praticamente todos os candidatos até 2020. Neste ano, nenhum postulante fez proposta nesse sentido. A fila de creche no município foi zerada em 2021, segundo a prefeitura.

Os planos divergem, por outro lado, quanto à abordagem educacional. Haddad (2012), Chalita (2012) e Boulos (2020) citam mais explicitamente a ideia de uma educação crítica e de formar um cidadão participativo.

Outros candidatos, como José Serra (PSDB), em 2012, Doria, em 2016, Russomanno, Covas e França, em 2020, Datena, Marçal e Tabata Amaral (PSB), em 2024, discutem mais a necessidade de priorizar a alfabetização e o ensino como ele já é e usar a melhoria das notas da cidade nos exames nacionais como métrica.

No transporte, a modernização e integração do Bilhete Único esteve no foco de Doria, Marta, França e Tabata. O tema da tarifa zero, que se espalhou por várias cidades neste pleito, foi citado pela primeira vez por Boulos, em 2020. Em 2023, a prefeitura liberou a gratuidade dos ônibus da capital aos domingos e feriados.

Marta, Haddad (2016), Covas e Boulos (2020) propuseram a implantação de sistema de wifi nos ônibus da cidade. Serra, Covas e Nunes trataram de uma proposta mais específica: a criação do corredor de ônibus da Radial Leste. Vários prefeitos tocaram trechos da obra, mas a entrega já foi adiada diversas vezes.

Doria e Marçal, que já foram comparados por suas trajetórias parecidas no meio político, carregam mais uma semelhança: a proposta de bolsões de estacionamento perto de pontos de transporte público, criticada por especialistas.

Em outro campo, apenas cinco candidatos já falaram abertamente sobre propostas para a população LGBT da cidade. Haddad (2012) foi o primeiro a citar a sigla e também pioneiro ao falar em homofobia (2016). Doria propôs continuar com o Transcidadania, programa do petista voltado à pessoas transsexuais.

Em 2020, Boulos foi o primeiro a citar explicitamente a palavra transgênero, foi também recordista de referências aos LGBT, com 39 menções no plano, número que caiu para apenas cinco no documento de 2024 do psolista. Datena e Tabata são os outros candidatos deste ano que apresentam propostas para esse segmento.

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