domingo, outubro 6, 2024
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Mulher, esposa, mãe, filha e CEO

Eu sei bem o que é ser CEO. Já fui CEO do meu próprio nariz e, hoje, lidero centenas de pessoas. Carrego nas costas o peso de um título que, por mais glamouroso que pareça no Instagram, exige uma força imensa. Ser CEO é viver em várias camadas, enfrentando desafios que vão muito além de tomar decisões.

Respeito cada mulher que se autodenomina CEO de seu MEI. O empreendedorismo feminino é incrível e precisa ser celebrado. Mas é preciso ser sincera: liderar um MEI e comandar uma empresa com camadas de liderança são realidades muito diferentes. Ser CEO é muito mais do que o título bonito no perfil. E, aqui, não tem romantização.

A verdade é que o Instagram criou uma ideia fantasiosa sobre ser CEO. Muitos acreditam que apenas por empreenderem já podem se chamar de chefes. Mas a real é que ser CEO não é sobre estar no controle de tudo sozinha. É sobre liderar, sim, mas também sobre ser responsável por dezenas, centenas, às vezes milhares de pessoas e lideranças. Existem responsabilidades que as redes sociais não mostram, e é nesse ponto que precisamos trazer clareza.

E aí veio toda a polêmica com o Tallis Gomes. Ele pediu desculpas, saiu do cargo, mas, na prática, o que mudou? O machismo estrutural continua firme. No meu próprio time, já fui desrespeitada várias vezes. E, sim, muitas vezes esse desrespeito veio de outras mulheres. Mulheres que, de forma velada, ainda perpetuam o machismo, preferindo seguir regras masculinas e zombando de lideranças femininas.

A fala dele era sobre uma experiência pessoal, não sobre nós, mulheres, em geral. Talvez ele tenha se deparado com mulheres que, assim como eu, no início precisaram usar uma energia mais masculina para serem respeitadas no ambiente corporativo. Só depois percebi que isso não era necessário.

E por que a gente sente essa pressão? Porque o mundo corporativo foi moldado para os homens. Eu cansei de pedir três vezes a mesma coisa para só na terceira ser levada a sério. E quando me irritava? Ah, era logo a “louca”, a “desequilibrada”. Enquanto isso, um homem só precisa falar uma vez. Isso machuca.

Mas o que mais dói é ver que muitas mulheres também sustentam esse ciclo. Elas desrespeitam suas líderes, desacreditam suas colegas. Isso é uma luta diária. A nossa maior batalha não é só contra os homens. É contra um sistema que também é mantido por nós mesmas.

Então o que mudou com o pedido de desculpas de Tallis? Nada. A estrutura continua a mesma. A figura masculina ainda é necessária para que certas decisões sejam respeitadas. Nós ainda temos muito a conquistar. Ser CEO é muito mais do que um título bonito para se postar no Instagram. É responsabilidade, liderança, força, e uma luta que cansa. E, muitas vezes, essa luta não é contra os homens, mas contra um sistema que ainda mantemos entre nós.

Mulheres, sigam em frente e não se distraiam!

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