Enfrentar a mudança climática exige educação, inovação e resiliência
Recentemente tive o privilégio de participar de um importante workshop, promovido pela ONU e realizado em Brasília, com foco em inovação para a construção de cidades e sociedades resilientes às mudanças climáticas.
O evento, que contou com a presença de autoridades, especialistas e líderes de diversas áreas, teve como objetivo principal discutir o futuro das cidades e das comunidades rurais frente aos desafios impostos pelo clima. Num dia em que o Brasil se viu coberto pela fumaça das queimadas criminosas, a presidente do Conselho Federal da Alemanha, Manuela Schwesig, fez a fala de abertura do evento, destacando a urgência de ações concretas para garantir um futuro sustentável.
Ela se solidarizou com a gravidade da situação, dizendo que recentemente passou por algo semelhante em sua província e enfatizou que combater as consequências da emergência climática é também pensar em como atender às necessidades humanas em momentos críticos, destacando a coragem extrema dos bombeiros que estavam em ação naquele momento.
Minha colaboração no evento foi nas áreas de educação e cultura. Conduzi um laboratório de ideias para um projeto em que uma escuta profunda auxilie uma nova forma de construção de informação crítica, capaz de oferecer a cada ser, humano ou não, uma experiencia singular em sustentabilidade.
O momento exige uma mudança de paradigma que promova a abordagem biocêntrica, em oposição à antropocêntrica, o que representa uma transição fundamental na maneira como enxergamos o mundo e nosso papel dentro dele.
Enquanto o antropocentrismo coloca o ser humano no centro de todas as decisões e visões de mundo, tratando os recursos naturais e os outros seres vivos como instrumentos para nosso benefício, o biocentrismo propõe uma nova lógica em que todas as formas de vida possuem valor intrínseco, independentemente de sua utilidade para a humanidade.
Essa mudança implica uma ruptura com a visão dominante que, por séculos, permitiu a exploração desenfreada dos ecossistemas, levando a crises ambientais globais como a mudança climática, a perda de biodiversidade e o colapso de recursos naturais. Em vez de vermos a natureza como algo a ser dominado e explorado, o paradigma biocêntrico nos desafia a reconhecermos nossa interdependência com todas as formas de vida e a tomarmos decisões que considerem o bem-estar de todo o sistema ecológico.
A nova educação exigirá uma ética que se estenda para além das relações humanas, abrangendo também nosso relacionamento com animais, plantas e até mesmo com os ciclos naturais do planeta. Essa abordagem promove uma visão de sustentabilidade verdadeira, onde o equilíbrio ecológico é preservado não apenas como um meio para garantir a sobrevivência humana, mas como um fim em si mesmo.
Adotar uma visão biocêntrica envolve reimaginar as formas como organizamos nossa economia, nossas políticas públicas e nossos estilos de vida, colocando em primeiro lugar o respeito pelos limites planetários. Isso exige também uma profunda transformação cultural, onde o valor da vida em todas as suas formas é cuidado e protegido, em vez de ser tratado como um recurso descartável.
Enfim, essa mudança de paradigma não significa relegar a humanidade a um papel secundário, mas sim nos reintegrar no ciclo da vida de forma harmônica, equilibrada e responsável. É uma oportunidade de recriarmos nossa identidade como uma espécie que, em vez de destruir o meio em que vive, trabalha para a regeneração e preservação do planeta, garantindo assim um futuro viável para todas as formas de vida, incluindo a nossa própria.
Participar deste evento foi uma oportunidade valiosa para refletir sobre o papel que cada um de nós pode desempenhar na construção de um futuro mais sustentável e justo. As cidades e comunidades rurais estão no centro desse processo, e a inovação será a chave para enfrentarmos os desafios climáticos e sociais que estão por vir.
TENDÊNCIAS / DEBATES
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