domingo, outubro 6, 2024
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Incoerências no turismo brasileiro

Nesta sexta-feira (27) comemora-se o Dia Mundial do Turismo, e a ONU Turismo selecionou o tema “Turismo e Paz” para 2024, indicando que o desenvolvimento do turismo sustentável transforma as comunidades criando empregos, estimulando a inclusão e fortalecendo as economias locais. Há menos de uma semana, ministros de Turismo do G20 se reuniram em Belém para finalizar a carta ministerial que será entregue em novembro à Cúpula Presidencial do G20, no Rio de Janeiro.

A Declaração Ministerial do G20 indica a necessidade de comprometimento com o turismo sustentável, resiliente e inclusivo, alinhando-se também aos ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). O Ministério do Turismo coordenou as atividades e assinou o documento se comprometendo com o investimento em comunidades locais, a geração de emprego e a gestão eficaz de destinos turísticos.

Ainda que haja um compromisso firmado em prol de uma prática de turismo de fato mais adequada ao Brasil, as falas e projetos liderados pelo atual ministro, Celso Sabino, apontam para outro caminho, dedicando-se mais ao turismo internacional e à liberação dos jogos de azar, apesar da abundância de estudos indicando que as bets têm efeito deletério no orçamento familiar, esgotando as eventuais reservas que seriam dedicadas ao lazer e às viagens.

Dados da Pnad Contínua Turismo, divulgados no último dia 13, revelam que 97% do turismo brasileiro é doméstico, mas o foco é o turismo internacional, cuja contribuição para emprego e renda é significativamente menor —e ainda é bastante restrito geograficamente. A própria Pnad indica que, no Brasil, o turista viaja de carro ou ônibus, para destinos de praia, uma única vez ao ano e por curtos períodos; a viagem padrão (avião + hotel + passeios) é viável somente para cerca de 10% dos brasileiros que viajam.

O caminho mais adequado ao turismo sustentável, portanto, é o do estímulo ao transporte rodoviário que privilegie etanol e fontes de energia limpa, a melhoria das condições nos acessos a atrativos turísticos, com pavimentação sustentável, beneficiando especialmente os moradores locais, e programas de estímulo à conectividade à internet, permitindo que mais produtos e serviços sejam digitalmente localizáveis.

Some-se a isso as recomendações do relatório “Facing Travel’s Future”, apresentado pela consultoria Deloitte no primeiro semestre: as gerações mais jovens manifestam maior preocupação com as questões ambientais, levando em consideração desde as emissões individuais de CO2 até o consumo consciente de experiências ligadas ao turismo regenerativo nos destinos; o uso das tecnologias disponíveis pode colaborar no uso racional de recursos, na disseminação de informações qualificadas e na conexão entre viajantes às opções existentes de turismo responsável; e a atenção às respostas práticas dos destinos aos efeitos das mudanças climáticas, em muitos casos levando à troca de destinos de viagem.

O turismo no Brasil tem uma dinâmica particular, que ainda carece de aprofundamentos teóricos para que seja de fato totalmente compreendido. Mas carece ainda mais de responsabilidade na escolha dos seus porta-vozes e gestores públicos —enxergando o longo caminho em uma estrada esburacada como desafio, não a sala vip de um aeroporto longínquo.

TENDÊNCIAS / DEBATES

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