domingo, outubro 6, 2024
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A política andou de mãos dadas com a coquetelaria

Política cabe na coqueteleira? Nos EUA, sim. A começar do primeiro presidente, pai fundador, George Washington. Não apenas ele produzia cerveja e bourbon como usava o álcool como combustível para discussões importantes. Para a Convenção da Constituinte de 1787, providenciou 45 galões de birita, o que dava, por alto, uns três litros por pessoa.

John Adams, o segundo presidente, tomava cidra no café da manhã e continuava nessa toada dia afora, altamente calibrado em compromissos oficiais, o que era um prato cheio para seus críticos.

Roosevelt ia além e fazia as vezes de bartender. Instituiu na Casa Branca o que chamava de “hora das crianças”. Era quando brincava com taças e medidores. Gostava de experimentar fórmulas de martíni, para azar de convidados (era péssimo atrás do balcão). Churchill foi uma de suas cobaias. Stálin torceu o nariz para o dirty martíni que ele lhe serviu. Isso porque não teve de experimentar o haitian libation, criação do pai do New Deal. Vai rum escuro, laranja, clara de ovo e açúcar mascavo. Talvez não seja tão ruim assim.

Já Kennedy tomava o cubano daiquiri ao mandar tropas invadirem a baía dos Porcos, em Cuba. A primeira-dama Jacqueline tinha sua fórmula, que incluía dose generosa de raspadinha de limonada e lances de licor Falernum, do Caribe.

Mas o coquetel que incluiu a política mais conspicuamente em sua mistura foi o ward 8. É um distrito eleitoral de Boston, um dos berços da República nos EUA. O drinque foi criado em 1898 para celebrar a vitória do deputado democrata Martin M. Lomasney —um dia antes das eleições, tal era o otimismo.

Lomasney era uma figura pitoresca. Conta-se que no dia das eleições ele pessoalmente distribuiu cédulas já preenchidas às pessoas na rua. (Algo que condiz com a então fama do distrito oito, de corrupto.) Ainda que homenageado com a gênese de um coquetel que se tornaria um clássico, era abstêmio. Nem por isso apoiou a Lei Seca, 20 anos depois.

Há algumas controvérsias quanto à data de criação do ward 8 —e quanto à sua paternidade. A principal delas diz respeito ao ingrediente grenadine, que só entraria em uso corrente nos EUA a partir de 1900. Foi uma novidade que mudou a coquetelaria e fez algum alarde. Quanto ao criador, há pelo menos três nomes na disputa. Cada um vota no seu favorito.

Que o ward 8 veio de Boston é inegável —nem poderia ser diferente. Um provável apreciador era o genial poeta Robert Lowell (1918-1977), nascido na cidade. Quando bebia, perdia os freios burgueses. Certa vez, tirou a roupa e montou a estátua de um cavalo, para espanto dos transeuntes. Foi encontrado depois, já vestido, bebendo e disputando braço de ferro com o poeta espanhol Rafael Alberti.

Dele é o poema “The Drinker”. Começa assim: “Ele está matando tempo – não há mais nada/ Nenhuma ajuda do quinto bourbon/ jogado apressadamente no rio,/ com até a rolha sendo tragada”.


WARD 8

60 ml de uísque de centeio ou bourbon

15 ml de suco de limão

15 ml de suco de laranja

2 colheres (chá) de grenadine

Bata os ingredientes numa coqueteleira com gelo e coe em taça coupe. Decore com duas cerejas marrasquino


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