domingo, outubro 6, 2024
Noticias

Escalada militar de Israel é aposta perigosa para o mundo

Prestes a completar um ano, o ataque brutal do grupo terrorista Hamas a Israel legou ao mundo uma crise tão aguda quanto a vivida nos campos ucranianos desde que os mísseis de Vladimir Putin caíram sobre o vizinho em 2022.

Em vez da prometida destruição do ente palestino que governava a Faixa de Gaza como um feudo e da libertação dos talvez 64 reféns ainda nas mãos dos agressores, a realidade traz o Estado judeu mirando o abismo de uma guerra ainda mais imprevisível no Oriente Médio.

A subjugação do Hamas é quase total a esta altura, mas é igualmente verdade que o grupo reteve capacidades destrutivas. O prolongamento dos combates levou também à obliteração da infraestrutura de Gaza e à morte de mais de 41 mil pessoas, entre terroristas e não terroristas.

O casus belli justo de Tel Aviv foi sendo diluído pelo sangue de civis inocentes. A argumentação correta de que eles serviam de escudos humanos não muda o fato de que foram mortos, e isso minou o apoio inaudito auferido por Israel após o golpe de 7 de outubro de 2023.

Com a crescente pressão internacional, a liga de inimigos de Israel e dos Estados Unidos centrada no Irã aproveitou para abrir novas cunhas na crise. De grupelhos xiitas no Iraque aos surpreendentes houthis do Iêmen, todos os prepostos de uma fragilizada Teerã foram acionados.

Os olhos, contudo, sempre estiveram virados para o norte israelense, além da fronteira do Líbano. Lá está o Hezbollah, considerado o mais poderoso agrupamento não estatal do mundo em termos militares.

Até há pouco, a escalada proposta pelos libaneses era contida —fora, claro, no caso dos moradores do norte de Israel, de onde 60 mil tiveram de fugir de suas casas neste ano. Seja como for, a exemplo do Irã, o temor de uma guerra existencial afastou o Hezbollah de um tira-teima do conflito de 2006 com Israel.

Há dez dias, contudo, o premiê Binyamin Netanyahu fez um movimento radical, colocando a volta dos refugiados como objetivo de guerra, ao lado das inconclusas missões contra o Hamas e a libertação dos reféns.

O resultado foi um rápido incremento das ações contra os fundamentalistas libaneses, que viram pagers explodirem em seus bolsos e sofreram ataques contra várias camadas de comando de sua ala militar, mais a degradação estimada de 50% de seu arsenal de mísseis e foguetes.

Nesta sexta (27), houve megaoperação contra o quartel-general do Hezbollah em Beirute. O alvo presumido era Hassan Nasrallah, líder do grupo. O impacto de sua eventual morte seria enorme, com evidente risco de as reações saírem de controle.

Netanyahu fez uma aposta na guerra, ciente de que isso mantém seu controle sobre o gabinete em que se destacam radicais de direita. Mas o senso de triunfo pode ser logo revertido, caso os rivais resolvam pagar a aposta.

editoriais@grupofolha.com.br

source

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

WP Twitter Auto Publish Powered By : XYZScripts.com