domingo, outubro 6, 2024
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Perder peso não é trapaça: por que julgamos quem usa tratamentos antiobesidade?

Medicamentos como Ozempic e Wegovy têm ganhado destaque por sua eficácia na perda de peso, especialmente entre celebridades e influenciadores que, por pressão social, muitas vezes evitam admitir seu uso.

Esses remédios não são apenas ferramentas estéticas, mas opções médicas que podem transformar vidas e mesmo economias ao tratar comorbidades associadas à obesidade, como diabetes e hipertensão. No entanto, ainda carrega um estigma não só em relação a pessoas obesas, mas também sobre o uso de tais intervenções, o que impacta negativamente os pacientes.

O uso desses medicamentos é frequentemente visto como “trapaça”, refletindo uma visão moral sobre o corpo e as escolhas de quem busca perder peso. Essa perspectiva de que o emagrecimento deveria ser exclusivamente fruto de “esforço pessoal” — por meio exclusivamente de dieta e exercício — pode desconsiderar os desafios enfrentados por quem vive com a obesidade.

As pesquisadoras Alexandra Brewis e Sarah Trainer observaram que quem opta por medicamentos ou cirurgias, como a bariátrica, muitas vezes enfrenta julgamentos, com comentários de que “escolheram o caminho mais fácil”. Em suas pesquisas, 90% das mulheres relataram críticas após suas escolhas.

Elas também ressaltam os impactos emocionais desses julgamentos. Em sua análise sobre a cirurgia bariátrica no Brasil, encontraram relatos de mulheres que se sentiram frustradas ou envergonhadas, muitas vezes em decorrência de comentários de amigos e familiares que questionavam seu esforço.

Essa pressão social pode resultar em estresse e, em alguns casos, dificultar a adesão aos novos hábitos alimentares e de exercício, que são essenciais mesmo após a cirurgia ou durante o uso de medicamentos. Além disso, a falta de apoio psicológico e educativo pode agravar a situação, especialmente para quem utiliza essas intervenções sem um suporte adequado.

No contexto econômico, Brewis aponta que o mercado dos medicamentos GLP-1, como Ozempic, tem grande potencial de crescimento, podendo alcançar US$ 150 bilhões até 2031. No entanto, o custo elevado ainda é um obstáculo, principalmente em países como o Brasil, onde a desigualdade de renda limita o acesso da população. Isso reforça a importância de ampliar o diálogo sobre o papel desses medicamentos, considerando-os como uma alternativa positiva que complementa os métodos tradicionais.

As associações médicas Abeso e SBEM, representadas por especialistas como Bruno Halpern, defendem que os termos usados para descrever esses tratamentos devem refletir seu verdadeiro propósito terapêutico. A proposta é substituir expressões como “drogas para perda de peso” por “medicamentos para tratar a obesidade”, enfatizando que essas opções são parte de um tratamento contínuo e não apenas soluções superficiais.

Essa mudança de linguagem pode ajudar a reduzir o estigma, promovendo uma visão mais equilibrada que reconheça o valor de todas as estratégias no cuidado da saúde e no bem-estar de quem lida com a obesidade.

Viver em um mundo onde pessoas obesas são depreciadas e, ao mesmo tempo, julgadas por recorrer a ferramentas modernas como medicamentos ou cirurgia bariátrica é insustentável. O verdadeiro desafio é superar as barreiras econômicas e sociais que amplificam o estigma, tornando o suporte integral uma necessidade urgente.

A obesidade é uma doença complexa, e reconhecer isso é crucial para romper o ciclo de estigmatização e promover uma abordagem que inclua as estratégias válidas em busca de uma vida saudável.


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